Os lucros de hoje não se transformam, necessariamente, em novos investimentos em capital fixo com um consequente aumento da capacidade de produção de riqueza e, menos ainda, em desenvolvimento.
Esta é a conclusão de um artigo de Ronald Janssen publicado no jornal on line Social Europe, datado de 20 Junho. O texto é baseado numa análise de um conjunto de gráficos publicados no último Economic Outlook da OCDE, para o período de 2000-2015.
A taxa de lucro do investimento em capital fixo voltou a situar-se em níveis anteriores à crise de 2007 ou seja em valores próximos de 10%, para o conjunto da OCDE, atingindo mesmo valores superiores no caso de alguns países, como o Reino Unido (12%) ou a Alemanha e a Holanda (13-14%). A estes valores há que acrescentar a alavancagem, difícil de avaliar, que pode resultar do recurso ao crédito, nas actuais circunstâncias de baixas taxas de juro.
Nestas condições, poder-se-ia esperar uma correspondente aceleração no investimento nos sectores produtivos da economia. Não é, porém, o que se verifica. O investimento produtivo não descola e, inclusive, permanece a nível inferior ao que seria necessário para manter o stock de capital.
Esta aparente contradição encontra explicação numa nova narrativa que tenha na devida conta que o nível de investimento em capital fixo depende das expectativas de lucro decorrentes de empregos alternativas, designadamente a aplicação em títulos (especulação bolsista) e em património imobiliário.
No actual contexto económico, a decisão de converter os lucros em novos investimentos produtivos pauta-se por expectativas de rentabilidade muito mais elevadas do que sucedia anteriormente à crise e mesmo quando se aplicam no sector produtivo, mais do que uma desejável expansão de capacidade produtiva e inovação tendem a concretizarem-se em empresas já existentes.
Esta constatação obriga, necessariamente, a questionar os fundamentos e os instrumentos das políticas públicas de incentivos ao investimento e de reformas estruturais, elaboradas no pressuposto de que, favorecendo os lucros, tal se reflecte em novos investimentos de capital produtivo, criação de emprego e outros benefícios para a sociedade como um todo.
Como bem adverte o Autor deste artigo, a actualização da narrativa tradicional deve conduzir à revisão das políticas públicas em domínios tão relevantes como: a política fiscal, a política tecnológica e sua articulação com o emprego, a política de salários, a política de incentivos amigos das empresas, as chamadas reformas estruturais, a política activa de repartição de riqueza e rendimento, entre outras.
Voltarei ao assunto em próximos posts.
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