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09 março 2018

O que pensam os europeus da sua qualidade de vida?



O 4º Relatório do Eurofound[1] apresenta o resultado do último inquérito dirigido a cidadãos de 33 países europeus, destinado a conhecer a sua opinião acerca da qualidade de vida na Europa, em 2016, e, simultaneamente, a avaliar a sua evolução desde o início da crise financeira de 2007.

São três as dimensões consideradas neste inquérito:

- Qualidade de vida, englobando o bem-estar subjectivo, níveis de vida e privação e equilíbrio entre o trabalho e responsabilidades de cuidadores;

- Qualidade dos serviços públicos, (saúde, cuidado de crianças) e qualidade da vizinhança;

- Qualidade da sociedade (segurança, níveis de confiança, tensões sociais, exclusão social, participação na sociedade e envolvimento na comunidade).

Das conclusões gerais deste inquérito destacam-se, para os 28 Estados-membros da EU, as seguintes:

·         Se bem que se tenha verificado uma evolução global favorável na UE 28, no período 2011-2016, nem todos os países e grupos sociais dela beneficiaram com equidade, continuando a persistir, em todos os países, significativas desigualdades sociais.

·         De facto, a melhoria da qualidade de vida beneficiou sobretudo o 2º quartil de rendimentos, para além de ter piorado a situação de certos grupos, com destaque para os desempregados de longa duração, com risco acrescido para a saúde mental e para o sentimento de exclusão social.

·         São também motivo de preocupação as situações de endividamento excessivo, as dificuldades sentidas no acesso às redes de apoio, a deterioração do equilíbrio entre o trabalho e a vida, a falta de planeamento e de resposta suficiente a problemas que a evolução demográfica torna mais prementes.

·         Alguns sinais de menor satisfação com a vida, em certo número de países, alertam para a necessidade de melhorar a eficácia da segurança social.

Merecerá certamente a atenção dos especialistas interessados a avaliação dirigida às opiniões manifestadas pelos portugueses, nas diferentes condições em que vivem.

Entretanto, parece-nos importante referir aqui alguns aspectos que nos chamam a atenção:

·         Em Portugal, só 54% dos inquiridos manifestam optimismo sobre o futuro das pessoas e seus filhos, ainda que, paralelamente, pareça desenhar-se alguma tendência positiva (em 2016) no tocante à satisfação com os níveis de vida.

·         A opinião sobre a capacidade de viver com um orçamento familiar equilibrado espelha a grande disparidade entre os mais pobres e os mais ricos, como por exemplo se observa na frequência com que os primeiros recorrem a medidas de poupança, quer na compra de alimentos saudáveis, quer na procura de consultas médicas ou no aquecimento das casas.

·         De sinal contrário é a constatação de que, no contexto da UE, Portugal se destaca por serem menos perceptíveis as tensões entre os diferentes grupos sociais: mais ou menos ricos, homem/mulher, grupos religiosos, empregadores/trabalhadores, pessoas com diferentes orientações sexuais e diferentes grupos raciais/ étnicos. Contudo, numa análise mais fina, que atende às diferenças entre os grupos de pessoas inquiridas – por exemplo, se estão ou não empregadas ou em desemprego de longa duração – revelam-se já algumas reservas.  

·         São também de assinalar as opiniões favoráveis sobre a qualidade de alguns serviços públicos, com destaque para o de saúde, mas o contrário sucede, por exemplo, com os transportes públicos e os cuidados de longa duração.

Nunca será demais saudar a procura de um conhecimento aprofundado e isento acerca do que é determinante para construir uma sociedade de bem-estar, pois demasiadas vezes o discurso concentra-se apenas ao redor das taxas de crescimento do PIB.

Para além dos alertas importantes que aqui nos são dados pelas opiniões dos cidadãos e que devem contribuir para melhorar as políticas públicas ao nível nacional, seria também necessário que deles se retirassem algumas lições para a revisão das políticas europeias que têm sido postas em prática, de forma a superar o sentimento de insegurança que alastra entre os europeus.


[1]  https://www.eurofound.europa.eu/publications/report/2017/fourth-european-quality-of-life-survey-overview-report?&utm_campaign=quality-of-life-and-public-services&utm_source=social-europe&utm_medium=banner

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