O 4º Relatório do Eurofound[1] apresenta o resultado do
último inquérito dirigido a cidadãos de 33 países europeus, destinado a
conhecer a sua opinião acerca da qualidade de vida na Europa, em 2016, e,
simultaneamente, a avaliar a sua evolução desde o início da crise financeira de
2007.
São três as dimensões consideradas neste
inquérito:
- Qualidade de vida, englobando o bem-estar
subjectivo, níveis de vida e privação e equilíbrio entre o trabalho e
responsabilidades de cuidadores;
- Qualidade dos serviços públicos, (saúde,
cuidado de crianças) e qualidade da vizinhança;
- Qualidade da sociedade (segurança, níveis
de confiança, tensões sociais, exclusão social, participação na sociedade e envolvimento
na comunidade).
Das conclusões gerais deste inquérito
destacam-se, para os 28 Estados-membros da EU, as seguintes:
·
Se
bem que se tenha verificado uma evolução global favorável na UE 28, no período
2011-2016, nem todos os países e grupos sociais dela beneficiaram com equidade,
continuando a persistir, em todos os países, significativas desigualdades sociais.
·
De
facto, a melhoria da qualidade de vida beneficiou sobretudo o 2º quartil de
rendimentos, para além de ter piorado a situação de certos grupos, com destaque
para os desempregados de longa duração, com risco acrescido para a saúde mental
e para o sentimento de exclusão social.
·
São
também motivo de preocupação as situações de endividamento excessivo, as
dificuldades sentidas no acesso às redes de apoio, a deterioração do equilíbrio
entre o trabalho e a vida, a falta de planeamento e de resposta suficiente a
problemas que a evolução demográfica torna mais prementes.
·
Alguns
sinais de menor satisfação com a vida, em certo número de países, alertam para
a necessidade de melhorar a eficácia da segurança social.
Merecerá certamente a atenção dos
especialistas interessados a avaliação dirigida às opiniões manifestadas pelos
portugueses, nas diferentes condições em que vivem.
Entretanto, parece-nos importante referir
aqui alguns aspectos que nos chamam a atenção:
·
Em
Portugal, só 54% dos inquiridos manifestam optimismo sobre o futuro das pessoas
e seus filhos, ainda que, paralelamente, pareça desenhar-se alguma tendência positiva
(em 2016) no tocante à satisfação com os níveis de vida.
·
A
opinião sobre a capacidade de viver com um orçamento familiar equilibrado espelha
a grande disparidade entre os mais pobres e os mais ricos, como por exemplo se
observa na frequência com que os primeiros recorrem a medidas de poupança, quer
na compra de alimentos saudáveis, quer na procura de consultas médicas ou no
aquecimento das casas.
·
De
sinal contrário é a constatação de que, no contexto da UE, Portugal se destaca
por serem menos perceptíveis as tensões entre os diferentes grupos sociais:
mais ou menos ricos, homem/mulher, grupos religiosos,
empregadores/trabalhadores, pessoas com diferentes orientações sexuais e
diferentes grupos raciais/ étnicos. Contudo, numa análise mais fina, que atende
às diferenças entre os grupos de pessoas inquiridas – por exemplo, se estão ou
não empregadas ou em desemprego de longa duração – revelam-se já algumas
reservas.
·
São
também de assinalar as opiniões favoráveis sobre a qualidade de alguns serviços
públicos, com destaque para o de saúde, mas o contrário sucede, por exemplo,
com os transportes públicos e os cuidados de longa duração.
Nunca será demais saudar a procura de um
conhecimento aprofundado e isento acerca do que é determinante para construir
uma sociedade de bem-estar, pois demasiadas vezes o discurso concentra-se
apenas ao redor das taxas de crescimento do PIB.
Para além dos alertas importantes que aqui nos
são dados pelas opiniões dos cidadãos e que devem contribuir para melhorar as
políticas públicas ao nível nacional, seria também necessário que deles se
retirassem algumas lições para a revisão das políticas europeias que têm sido
postas em prática, de forma a superar o sentimento de insegurança que alastra
entre os europeus.
[1] https://www.eurofound.europa.eu/publications/report/2017/fourth-european-quality-of-life-survey-overview-report?&utm_campaign=quality-of-life-and-public-services&utm_source=social-europe&utm_medium=banner
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