A pobreza é, inegavelmente, um dos traços
mais negativos da sociedade portuguesa.
Conhecemos hoje, muito melhor do que no
passado, a extensão deste mal social, a sua gravidade, bem como as causas que o
alimentam e perpetuam.
Recordamos que há mais de uma década (em Julho
de 2008), a Assembleia da República aprovou uma Resolução em que declarava
solenemente que a pobreza conduz à violação dos direitos humanos, tendo
apresentado várias recomendações ao Governo destinadas a estabelecer regras para
a definição de um limiar da pobreza e para garantir uma regular avaliação das
políticas públicas visando a sua erradicação.
Certamente que, ao longo dos últimos anos,
muitas acções se sucederam, por iniciativa de entidades nacionais, sem as quais
seria ainda pior o panorama que hoje nos continua a envergonhar por tantos
portugueses continuarem a viver em situação de pobreza.
Devemos à Rede EAPN a realização de uma importante
Conferência que ontem juntou na Gulbenkian um grande número de participantes e
permitiu um debate que esperamos venha contribuir para reforçar a consciência da
nossa Responsabilidade Colectiva no Combate à Pobreza.
Um dos aspectos que ficou bem claro da Conferência
de Abertura e da Mesa-Redonda dedicada à apresentação dos pontos de vista dos
partidos políticos sobre uma Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, é o da necessidade
de adoptar, com urgência, uma estratégia abrangente, posição que foi quase
unânime entre eles, reconhecendo a necessidade de corrigir os impactos
negativos resultantes do modelo de desenvolvimento.
É grande a expectativa em torno do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, muito embora continue a ser demasiado pesado o
encargo que recai sobre os Estados, perante as limitações orçamentais que a UE
lhes impõe, com risco de poder vir a ser aquele instrumento de muito fraca
efectividade: faz pois todo o sentido que o custo das políticas sociais - tão
importante para cada país como para o todo da UE - seja classificado como um
investimento.
Acresce que a forma assimétrica como as
crises atingem os países, penalizando os mais fracos economicamente, deveria
levar e uma interpretação mais justa da aplicação do princípio da
subsidiariedade, assumindo a União Europeia uma parte substancial dos encargos
orçamentais com as políticas sociais nacionais.
De qualquer forma, mesmo que as limitações
orçamentais possam vir a ser ultrapassadas, importa que a definição da estratégia
eleja a erradicação da pobreza como objectivo último e atenda não só às
manifestações da pobreza como às múltiplas causas que estão na sua origem.
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