14 fevereiro 2018

Condições de Trabalho: que influência sobre a duração da vida de trabalho?

O envelhecimento da população tem como consequência uma participação maior dos trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho. Quais os factores que podem facilitar ou prejudicar vidas de trabalho mais longas? O European Working Conditions Survey de 2015, do Eurofund (aqui), procura responder a esta pergunta, através da análise dos elementos que influenciam o trabalho “sustentável”. Trabalho “sustentável” quer dizer condições de trabalho e de vida que permitam aos trabalhadores comprometerem-se e manterem-se no trabalho, ao longo de uma vida de trabalho mais longa.

Para tanto, são analisadas as condições de trabalho por idades, género, ocupações e países, em relação a três itens: equilíbrio entre o trabalho e vida; saúde e bem-estar; e perspectivas de carreira.

De um modo geral, a maioria dos países europeus tem procurado alongar a vida de trabalho, através do aumento da idade da reforma e providenciando incentivos aos trabalhadores para permanecerem em actividade. Poucos são aqueles que têm incidido a sua atenção na melhoria das condições de trabalho, uma questão essencial tanto no presente como no futuro, face às alterações esperadas no mundo do trabalho.

As conclusões gerais, sem entrarmos em especificações quanto a países, género ou profissão, são as seguintes:
·         As más condições de trabalho têm um impacto negativo no trabalho “sustentável” em todas as idades. Os riscos físicos e o stress provocam problemas de saúde e traduzem-se num equilíbrio negativo entre a vida e o trabalho. A má qualidade da gestão é igualmente prejudicial. Como consequência, existem dificuldades acrescidas para se chegar à idade da reforma.
·         Acima dos 55 anos, o inquérito revela que os trabalhadores estão menos expostos a riscos, têm durações de trabalho menores e dispõem de mais autonomia, mas têm menor participação na formação e menores perspectivas de carreira.
·         Entre os 45 e os 54 anos, detectou-se que os trabalhadores beneficiam de menores exigências quantitativas, mas estão expostos a riscos físicos semelhantes aos dos mais jovens.
·         Dos 35 aos 44 anos, o factor crítico é o equilíbrio entre o trabalho e a vida, já que têm horas de trabalho mais longas e maiores responsabilidades familiares.
·         Abaixo dos 35 anos, os resultados são mistos. Embora sofrendo de maior precariedade no trabalho, verifica-se um apoio maior e encorajamento por parte dos colegas e patrões.
·         Os mais qualificados tendem a trocar as consequências negativas de condições de trabalho adversas, através de compensações monetárias mais elevadas, mas para os menos qualificados as más condições de trabalho tornam-se um fardo, ao longo da vida, e levantam questões de equidade.
·         Para todas as idades, um nível que qualificação baixo ou médio está associado a menor saúde e bem-estar, bem como perspectivas de carreira medíocres. O impacto das más condições de trabalho em idades jovens tende a acumular-se, resultando em condições frágeis em idades mais avançadas
·         O contexto institucional desempenha um papel relevante sobre a duração da vida de trabalho, em especial no que respeita aos sistemas de pensões, saúde, educação e prestação de cuidados. O esforço dos parceiros sociais, ao nível nacional, sectorial e no local de trabalho é também crucial.

Em síntese, defende-se que deve ser adoptada uma definição mais ampla de postos de trabalho perigosos e penosos e que é preciso monitorizar as tendências no mundo do trabalho, considerando-se que as alterações em curso, designadamente as ligadas à evolução tecnológica e à digitalização podem constituir uma oportunidade para os trabalhadores mais velhos.


Finalmente, há um apelo para que se investiguem as motivações que levam a permanecer mais tempo na vida activa. 

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