O envelhecimento da
população tem como consequência uma participação maior dos trabalhadores mais
velhos no mercado de trabalho. Quais os factores que podem facilitar ou
prejudicar vidas de trabalho mais longas? O European Working Conditions Survey de
2015, do Eurofund (aqui), procura responder a esta pergunta, através da análise
dos elementos que influenciam o trabalho “sustentável”. Trabalho “sustentável” quer
dizer condições de trabalho e de vida que permitam aos trabalhadores
comprometerem-se e manterem-se no trabalho, ao longo de uma vida de trabalho mais
longa.
Para tanto, são
analisadas as condições de trabalho por idades, género, ocupações e países, em
relação a três itens: equilíbrio entre o trabalho e vida; saúde e bem-estar; e
perspectivas de carreira.
De um modo geral, a
maioria dos países europeus tem procurado alongar a vida de trabalho, através do
aumento da idade da reforma e providenciando incentivos aos trabalhadores para permanecerem
em actividade. Poucos são aqueles que têm incidido a sua atenção na melhoria
das condições de trabalho, uma questão essencial tanto no presente como no
futuro, face às alterações esperadas no mundo do trabalho.
As conclusões gerais,
sem entrarmos em especificações quanto a países, género ou profissão, são as
seguintes:
·
As más condições de trabalho têm um
impacto negativo no trabalho “sustentável” em todas as idades. Os riscos
físicos e o stress provocam problemas de saúde e traduzem-se num equilíbrio negativo
entre a vida e o trabalho. A má qualidade da gestão é igualmente prejudicial.
Como consequência, existem dificuldades acrescidas para se chegar à idade da
reforma.
·
Acima dos 55 anos, o inquérito revela
que os trabalhadores estão menos expostos a riscos, têm durações de trabalho
menores e dispõem de mais autonomia, mas têm menor participação na formação e
menores perspectivas de carreira.
·
Entre os 45 e os 54 anos, detectou-se
que os trabalhadores beneficiam de menores exigências quantitativas, mas estão
expostos a riscos físicos semelhantes aos dos mais jovens.
·
Dos 35 aos 44 anos, o factor crítico é o
equilíbrio entre o trabalho e a vida, já que têm horas de trabalho mais longas
e maiores responsabilidades familiares.
·
Abaixo dos 35 anos, os resultados são
mistos. Embora sofrendo de maior precariedade no trabalho, verifica-se um apoio
maior e encorajamento por parte dos colegas e patrões.
·
Os mais qualificados tendem a trocar as
consequências negativas de condições de trabalho adversas, através de
compensações monetárias mais elevadas, mas para os menos qualificados as más condições
de trabalho tornam-se um fardo, ao longo da vida, e levantam questões de
equidade.
·
Para todas as idades, um nível que
qualificação baixo ou médio está associado a menor saúde e bem-estar, bem como
perspectivas de carreira medíocres. O impacto das más condições de trabalho em
idades jovens tende a acumular-se, resultando em condições frágeis em idades mais
avançadas
·
O contexto institucional desempenha um
papel relevante sobre a duração da vida de trabalho, em especial no que
respeita aos sistemas de pensões, saúde, educação e prestação de cuidados. O
esforço dos parceiros sociais, ao nível nacional, sectorial e no local de
trabalho é também crucial.
Em síntese, defende-se
que deve ser adoptada uma definição mais ampla de postos de trabalho perigosos
e penosos e que é preciso monitorizar as tendências no mundo do trabalho,
considerando-se que as alterações em curso, designadamente as ligadas à
evolução tecnológica e à digitalização podem constituir uma oportunidade para
os trabalhadores mais velhos.
Finalmente, há um apelo
para que se investiguem as motivações que levam a permanecer mais tempo na vida
activa.
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