14 junho 2017

Mundo Digital do Trabalho – Indústria 4.0

Há iniciativas de grande alcance que, todavia, escapam à visibilidade dos media. É o caso de um seminário internacional promovido pela LOC-MTC e realizado em Mora, no Alentejo, nos dias 8-10 Junho.

É função das redes sociais preencher estes vazios de informação. Com tal pressuposto queria chamar a atenção para esta iniciativa que reuniu dirigentes de vários movimentos de trabalhadores cristãos, vindos de vários países europeus, designadamente, Espanha, França, Alemanha e, claro está, Portugal, a quem coube a iniciativa do seminário e a sua organização.

É muito positivo - e tarefa urgente - que responsáveis de organizações de trabalhadores se debrucem sobre o futuro do trabalho, conheçam os desafios que a economia e a sociedade digital em marcha em contexto de globalização e financeirização vão trazer ao mundo do trabalho e procurem, em conjunto, traçar rumos que preservem objectivos de trabalho digno, desenvolvimento do emprego e distribuição do rendimento na sociedade no Mundo Digital do Trabalho – Indústria 4.0.
 
Esta foi a temática principal do referido Seminário que contou com a presença do Arcebispo de Évora, José Alves e do Presidente do Município e teve o apoio do EZA – Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores.

Do comunicado final destaco algumas passagens.

O trabalho é um dom e um projeto de humanização que tem a ver com a construção da sociedade, é imprescindível para a realização humana e não apenas uma fonte de remuneração. O futuro vai depender da nossa atenção à realidade, do acompanhamento que fizermos aos trabalhadores, dos valores e dos critérios de vida que motivam o nosso agir, sendo que temos de fazer frente ao individualismo, construindo espaços de proximidade, com cristãos ou não, de modo a criar alternativas e propostas credíveis no sentido do trabalho digno, para uma sociedade digna.

O trabalho é o centro de cada pacto social, não é o meio para poder consumir. Entre o trabalho e o consumo há muitos aspetos, todos importantes e bonitos, que se chamam: dignidade, respeito, honra, liberdade, direitos, direitos de todos.
 
Mereceram debate específico as possíveis implicações que o Mundo Digital do Trabalho possa vir a ter para a Contratação Colectiva. A este propósito, lê-se no Comunicado final o seguinte:

No que respeita à Contratação Colectiva, o maior risco que estamos a correr é a perca da relação coletiva, o que se pode definir em três pontos:
1. Como entender os vínculos laborais num tempo de precariedade e em que os trabalhadores ficam reduzidos a prestadores de serviços?
2. O Impacto nas condições de trabalho e a perspectiva de maiores desigualdades, fruto da polarização do trabalho em que alguns, poucos, são altamente qualificados e remunerados e a grande maioria fica por salários baixos e é facilmente substituível.
3. Como dar sustentabilidade à Segurança Social e qual a sua missão no futuro?
 
Baseados nas experiências recolhidas nos seus países de origem, os participantes no Seminário quiseram dar ênfase também às seguintes preocupações também reflectidas no Comunicado final: 

(…) sem colocarmos em causa o modelo social e económico vigente, poderemos amaciar temporariamente um ou outro efeito da crise, mas logo ela se manifestará de novo, porque o modelo económico vigente é suicidário, mata.

(…) foi referida a necessidade de organizarmos a solidariedade e fomentarmos o diálogo social com as pessoas que conhecemos, os colegas de trabalho, os familiares, como fermento de um mundo novo e como afirmação de que outra realidade, diferente da atual, é possível.

(…) O futuro do trabalho não vai depender tanto dos avanços tecnológicos mas, sobretudo, do modo como o encararmos e dos objectivos que prosseguirmos. Com a Revolução industrial 4.0 em andamento, o desafio do emprego para todos continua em cima da mesa. E o pleno emprego tem mais a ver com a repartição da riqueza do que com os avanços tecnológicos. O trabalho é a melhor forma de repartir a riqueza, mas outras formas se podem promover e incentivar, como o caminho para a redução dos tempos laborais sem perca de remuneração, tendo em vista que muitos outros tenham trabalho, definir um salário mínimo para os precários, promover a educação para o bem comum e, como consumidores, apostar nos produtos locais, sempre que possível.

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