O resultado da
eleição presidencial francesa que conduziu à vitória de Emmanuel Macron veio
por fim a um período de enorme incerteza em que se chegou a recear o pior para
a Europa.
Aguardam-nos ainda
muitas incógnitas, todas elas importantes para o futuro da União Europeia e para
cada um dos seus Estados Membros: assim saiba cada um assumir as suas
responsabilidades, desde logo colocando em primeiro lugar o que é a questão
mais importante, isto é, fazer renascer a confiança no futuro de uma Europa
verdadeiramente democrática em que o poder esteja ao serviço do bem comum.
Nesta conjuntura, não
se pode minimizar a influência que tiveram na arquitectura da União Monetária
Europeia (UME), tanto a França como a Alemanha, sendo certo que da sua capacidade
para mudar o que de errado (ou incompleto) foi criado depende em grande parte o
futuro de milhões de pessoas.
A questão não reside
na falta de possíveis soluções para os problemas, tantos são os contributos que
têm sido apresentados, vindos de forças políticas, do meio académico, sindical
ou do activismo da sociedade civil.
O verdadeiro problema
é a fractura e o desequilíbrio de poder entre os Estados da zona Euro, onde o
grupo dos que registam elevados níveis de desemprego vê limitadas as suas
possibilidades de recuperação pelo grupo que, com um peso de dívida reduzido,
poderia estimular a retoma da economia europeia e a reposição dos níveis de
bem-estar anteriores à crise de 2007/2008.
Como sintetiza um
texto de dois economistas alemães, Bjӧrn Hacker e Cédric Koch, publicado em Social Europe em 9 de Maio (Macron President; Setting Up Another Round
of Conflict On EMU Reform?),
“Os desentendimentos sobre as reformas necessárias
na área do Euro devem-se, fundamentalmente, a diferentes paradigmas económicos
que, desde o início, definiram a criação da União Monetária Europeia actual. Um
campo defende a ideia da UME como sendo uma união de estabilidade, baseada no
princípio da estabilidade de preços interna e externa, e dá prioridade à auto
regulação das forças de mercado livre para minimizar o risco político. O campo
oposto defende a visão da união fiscal, baseada na convicção de que a
inevitabilidade da falha do mercado significa que a governança económica
transnacional deve ambicionar mais do que a simples estabilidade de preços. As
duas visões representam concepções diametralmente opostas acerca de uma UEM
completa e funcional e, consequentemente, divergem largamente na sua
interpretação das causas das crises e sobre as reformas necessárias.”
Como os autores
referem, embora a maioria, tanto em termos de população como de PIB, se encontre
no segundo grupo de países, estes têm sido incapazes de contrariar a posição do
primeiro, o qual se tem apresentado coeso sob a liderança do Ministro das
Finanças alemão na defesa da actual arquitectura na área do Euro.
O que poderá resultar
da vitória de Macron? Que forças vão prevalecer?
Desde logo, subsistem
no curto prazo questões em aberto: é incerto o apoio parlamentar que o novo presidente
francês virá a obter e, por outro lado, algumas dúvidas têm sido expressas
sobre as suas opções ideológicas, apontando-se o cariz neoliberal de certas
medidas por ele anunciadas, por exemplo a redução do IRC.
Contudo, se lermos o
texto que Macron publicou no The Guardian
de 3 de Junho de 2015, com Sigmar Gabriel (Europe
cannot wait any longer: France and Germany must drive ahead. For the EU to
survive, eurozone countries need to integrate further and create a joint
treasure), percebemos que tem algum fundamento a expectativa de Hacker e Koch,
de que ele possa vir a seguir uma via de defesa de reformas em linha com os
interesses da maioria, aumentando a capacidade do orçamento Europeu, apoiando a
criação de Eurobonds, a finalização da União Bancária e um maior equilíbrio nas
regras de consolidação orçamental.
Será este o denominador
comum, o traço de união entre os que defendem uma reforma profunda da Área do
Euro?
Até que ponto a
personalidade do novo presidente favorece o consenso necessário e será ele
capaz de enfrentar o poder do opositor na Europa?
Certo é que o risco
de voltarmos a sofrer o pesadelo Le Pen em 2022 está longe de ter sido afastado
como distraidamente poderíamos acreditar.
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