A Comunicação Social tem, nos últimos dias,
dado relevo excepcional à informação e a opiniões variadas acerca das
conclusões de um Relatório da Unidade Técnica de Acompanhamento de Projectos (UTAP)
do Ministério das Finanças.
Trata-se de uma avaliação que incide sobre um
dos hospitais – o Hospital de Cascais -, gerido em parceria público-privada,
cujo contrato termina em 2018, estando em vigor outras três PPP que também verão
o final dos respectivos contratos entre 2018 e 2019.
As notícias que referem as conclusões da UTAP
salientam uma poupança para o Estado da ordem de 40 milhões de euros em cinco
anos, sendo este valor contestado por alguns, por exemplo, pelo actual
Bastonário da Ordem dos Médicos, dada a forma mais completa como são
contabilizados os custos nos hospitais públicos que servem de termo de
comparação.
Outros entendem que não é legítimo comparar
custos incorridos na PPP com custos projectados para a alternativa de gestão pública,
e apontam exemplos de pagamentos mais elevados à PPP em certas prestações de
cuidados hospitalares.
A controvérsia está lançada e vai para além
do caso concreto que suscitou o pedido do Ministério da saúde à UTAP.
Contributo importante para o debate é também
o estudo, concluído em Maio de 2016 pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) que
avaliou o resultado da gestão dos quatro hospitais em regime de PPP, de forma a
identificar “o que de positivo trouxeram ao SNS, mas também que desvantagens
comparativas encerram”.
Foram aí avaliadas quatro vertentes:
eficiência relativa, eficácia, qualidade clínica e custos de regulação.
As conclusões, muito sinteticamente, foram as
seguintes:
a)
-
As PPP foram globalmente eficientes, mas não foi possível identificar
diferenças estatisticamente significativas entre os resultados do grupo dos
hospitais PPP e o grupo dos outros hospitais do SNS;
b)
-
No capítulo da eficácia os vários indicadores tanto apontam para melhor
desempenho das PPP face à média como são de sinal contrário;
c)
-
Quanto à qualidade, acentuam-se as dificuldades de uma conclusão, mas refere-se
que “os hospitais PPP são visados em grande número de reclamações com
expressivo crescimento registado em anos recentes, sendo os principais temas
visados os tempos de espera e a focalização no utente”;
d)
-
A avaliação dos custos de regulação é prejudicada por indisponibilidade de
indicadores de outros hospitais públicos e referem-se várias questões colocadas
pelo articulado dos contratos de gestão, sem que se possa concluir pela maior
ou menor ocorrência de litígios.
A conclusão deste estudo aponta para a
dificuldade de dele se retirar uma resposta inequívoca à questão colocada pelo
Ministério da Saúde:..”prescindindo de algum tipo de ponderação dos resultados
obtidos, a valorizar mais ou menos determinadas áreas em detrimento de outras,
não se retira uma ilação global a respeito da vantagem ou desvantagem da gestão
em regime de PPP”.
O facto de não ser comum noutros países a solução
PPP para a gestão hospitalar, ao contrário do que se verifica nas parcerias
para a construção e manutenção de hospitais, reflecte a dificuldade daqueles contratos
conseguirem compatibilizar os interesses em presença e de assegurarem, ao longo
da sua vigência, não só os legítimos interesses dos utentes como uma equilibrada
partilha de riscos entre as partes contratantes.
A recente decisão governamental de manter em
aberto todas as possibilidades quanto ao caso do Hospital de Cascais, incluindo
a do regresso à gestão pública, ao mesmo tempo que lança um concurso público
internacional para novo contrato, permite esperar a necessária ponderação em
questão tão sensível como é a das PPP.
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