Saberão
todos o que representava (e continua a representar) em muitos dos nossos
ambientes sociais um(a) endireita.
Trata-se de alguém a quem se recorria (recorre), em última instância, quando os
ossos doem ou estão partidos, e os médicos, mesmo os ortopedistas, ou não
existem ou se existem não são capazes de dar solução aos males que são objeto
de queixas dificilmente suportáveis.
A
ida ao endireita surge, sempre, numa
situação de desespero, em que se perdeu a esperança de encontrar solução para
os problemas junto das instituições normais de funcionamento da sociedade,
sobretudo, porque se deixou de se acreditar que elas possam vir, ainda, a
trazer algo de bom.
Vem
esta alusão aos endireitas, a
propósito da velocidade estonteante com que vimos assistindo ao progresso das
forças e ideologias mais retrógradas da sociedade. E tudo isto se passa dentro
do quadro de funcionamento democrático da sociedade! São forças que conquistam
terreno, em grande medida, graças ao voto da população de rendimentos mais
baixos. Seria delas que se esperaria o melhor apoio ao funcionamento democrático
da sociedade, mas verificamos precisamente o contrário. Só que os vícios de que
se foi revestindo esse funcionamento, com oportunismos e corrupções de toda a
espécie, conduziu a que os mais desprotegidos mais nada dele pudessem esperar.
Nestas
circunstâncias as únicas alternativas são as que possuem natureza sebastianista.
Nos últimos tempos são as ideologias de direita. Não se sabe muito bem se o
voto nestes endireitas poderão
resolver todas as angústias, mas acredita-se que qualquer solução que venha a
ser adotada não será pior do que aquelas que o sistema implantado é capaz de
oferecer. É, em grande medida, por isso, que vimos acontecer nos EUA, a eleição
de Trump e se correm sérios riscos de ver acontecer situações semelhantes na
Europa, na Hungria, na Polónia, em França, na Itália, etc.
E
contra esta invasão das forças mais retrógradas não haverá nada a fazer? Há
sempre alternativas, podem é trazer ou não respostas eficazes no tempo que
consideraríamos desejáveis. Deixámos-nos adormecer durante demasiado tempo e,
agora, quando acordamos já começa a ser tarde para encontrar respostas
atempadas.
Os
média em que podemos encontrar reflexões mais lúcidas, desde há algum tempo que
nos vêm alertando para os perigos que podem advir do recurso a estes endireitas. Termino este comentário
reproduzindo uma parte da crónica com que o Frei Bento Domingues nos tem
deliciado aos domingos, no jornal Público, neste caso, na edição do último dia
4, a propósito de discurso do Papa Francisco ao receber, recentemente, os participantes no 3º
Encontro de Movimentos Populares:
Enquanto vos
mantiverdes no âmbito das «políticas sociais», enquanto não puserdes em questão
a política económica ou a Política com «P» maiúsculo, sois tolerados. A ideia
das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres e muito menos inserida num
projecto que reúna os povos, às vezes parece-me um carro de carnaval a esconder
o lixo do sistema.
Quando vós,
da vossa afeição ao território, da vossa realidade diária, do bairro, do local,
da organização do trabalho comunitário, das relações de pessoa a pessoa, ousais
pôr em causa as macro relações, quando
levantais a voz, quando gritais, quando pretendeis indicar ao poder uma
organização mais integral, então deixais de ser tolerados. Estais a
deslocar-vos para o terreno das grandes decisões que alguns pretendem
monopolizar em pequenas castas. Assim a democracia atrofia-se, torna-se um
nominalismo, uma formalidade, perde representatividade, vai-se desencantando
porque deixa de fora o povo na sua luta diária pela dignidade, na construção do
seu destino.
NEM MAIS !
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