Aparentemente,
tudo são progressos. Os níveis de desempenho dos alunos portugueses de 15 anos
têm estado a subir nas três componentes testadas pelo PISA: (ler aqui e aqui volume I e volume II, respectivamente) – literacia, numeracia e literacia
científica. Ouve-se e lê-se até que, relativamente ao domínio dos conhecimentos
de Matemática, Portugal ultrapassou a Finlândia. Embora não se refira que os
resultados neste país, até há pouco exemplar, têm vindo a diminuir
drasticamente naqueles três domínios nos últimos anos… Há razões que se prendem
com reformas educativas e alterações institucionais que o PISA não reflecte.
A
metodologia seguida pelo Programme for International Students’ Assessment
(PISA) é conhecida e vem, de resto, descrita no início dos relatórios que
periodicamente representam os resultados do inquérito, como os documentos acima
referidos. Também são bem conhecidas muitas das críticas que, internamente ao
País ou internacionalmente, têm sido dirigidas a esta operação e seus limites.
Não querendo entrar em profundidade neste aspecto, ressaltemos mesmo assim
alguns desses limites.
Antes
de mais, o PISA não é uma medida completa do sucesso ou insucesso escolar. Com
efeito, são sujeitos ao teste alunos que estão no sistema educativo aos
15 anos, não os que – obviamente – abandonaram o sistema por sucessiva retenção
de ano ou outras razões. A taxa de repetição de ano, que os próprios documentos
da OCDE mostram ser, em Portugal, das mais elevadas naquele conjunto de países,
não é objecto de consideração directa pelo Programa.
Depois,
o teste às capacidades dos alunos é realizado de forma independente
relativamente às três áreas em análise. Ora uma das razões para se ser low performer em Matemática, por
exemplo, reside no fraco domínio da língua materna; e a capacidade para
resolver problemas de nível 3 ou 4 não é indiferente, antes depende em muito,
do desenvolvimento inicial do espírito científico e suas metodologias de
abordagem.
Por
outro lado, a análise a que o PISA procede é feita em corte temporal, através
de um teste de algumas horas. Enquanto a constituição do conhecimento é, por
natureza, dinâmica e intertemporalmente dependente das sucessivas aquisições:
um bom desempenho revelado neste teste resulta de um “clique” na aprendizagem
no ano em questão ou traduz, pelo contrário, todo um percurso prévio de
aquisições fáceis e sólidas, para já não falar na sorte ou inspiração
momentâneas? Críticas estas que, entre outras, são também dirigidas à avaliação
através de exames finais.
Quer
isto dizer que não se devam levar em conta os resultados de testes como o PISA?
Nada disso. O Programa tem o condão de fazer ressaltar que a crise ou o sucesso
dos processos de aprendizagem em sistemas educativos como os considerados
resulta de uma multiplicidade de factores. A grande questão é que,
frequentemente, falta à tentativa de resolução destes problemas parciais o
enquadramento por uma estratégia e visão globais.
Assim,
como explicar que, apesar daqueles resultados, a OCDE constate também que se
verifica uma diminuição da assiduidade dos professores em Portugal? Não terá
isto a ver, entre outros aspectos, com a desadequação dos programas
curriculares de que tantas vezes ouvimos eco mas que o PISA não considera? Para
além, naturalmente, de factores decisivos ligados às condições de exercício e
estatuto dos professores. Professores
esses que, em Portugal, o PISA também mostra serem dos mais capazes de
flexibilidade pedagógica e de apoio em recursos alternativos e diversificados
face às dificuldades específicas do contexto e dos diferentes alunos, cabe
sublinhar.
Como
vamos, então, de estratégia global de enquadramento e revisão das
fragilidades do sistema educativo português? O que tem o actual Ministério da
Educação a oferecer a tal respeito?
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