A notável Conferência Internacional - Luzes e
Sombras da União Europeia- realizada a semana passada por iniciativa do
Instituto europeu e do Centro de Investigação do Direito Europeu, Económico,
Financeiro e Fiscal (CIDEEFF), deu-nos a oportunidade de conhecer as opiniões
de muitos especialistas, nem sempre convergentes, acerca do processo de
integração europeia, cujo futuro é tão incerto.
Com mais ou menos ênfase, foi aí destacada a
ideia de que o estado actual da U.E. (e não só…) alimenta um sentimento de
grande insegurança das pessoas, mas, apesar do seu desencanto, é mantida a
esperança de que a crise será ultrapassada.
Como repetidamente tem vindo a ser
reconhecido, são graves as disfuncionalidades da construção europeia, em
particular na área do Euro, com regras que agravam a desigualdade no desempenho
económico entre os Estados - Membros, ao mesmo tempo que as políticas sociais
se mostram incapazes de conter a degradação das condições de vida das pessoas.
É certo que respiramos de alívio com as boas
notícias dos últimos dias, desde os indicadores estatísticos de alguma retoma
do crescimento e do emprego, à alteração da posição da Comissão Europeia quanto
à aplicação de sanções e a possível retirada, em 2017, do procedimento por
deficit excessivo.
Estaremos perante o início de uma mudança da
política europeia, provavelmente mais consciente dos riscos de desagregação que
o Brexit veio espoletar?
Terá continuidade a adopção de uma postura
nacional - finalmente! - interventiva nas instâncias europeias, em articulação
com outros países?
Só com a resposta positiva a estas
interrogações poderemos ambicionar o início de uma revisão profunda das
políticas europeias, de que é um tímido sinal algum abrandamento na estratégia
de austeridade da Comissão, hoje referido no jornal Público (post de Ricardo Cabral em Espaço
Público).
Paralelamente, urge reconhecer aos direitos
sociais e à política social o lugar que lhes é devido na hierarquia de valores
da U.E., o que corresponde, afinal, a levar a sério todos os direitos constantes
do acervo comunitário, com destaque para a Carta dos Direitos Fundamentais.
É pois fundamental que o Pilar Europeu dos
Direitos Sociais, uma iniciativa da U.E (de que o post de Manuela Silva nos deu conta, a 27 de Outubro) mais do que
pormenorizar princípios e compromissos, venha a torna-los operacionais,
obrigatórios e adaptados às mudanças societais que têm vindo a ocorrer.
Estará em vias de nascer a Europa Social, em
que os direitos sociais podem passar a ser reivindicados a nível da U.E., ou,
como parece mais provável, eles continuam a ser garantidos apenas pelos
tribunais nacionais?
E neste caso, que meios financeiros europeus
são postos ao dispor dos governos para que cumpram os objectivos e metas que
virão a ser estabelecidos a nível da U.E?
Esperamos que da consulta pública sobre o
Pilar Europeu dos Direitos Sociais, venha a resultar uma proposta revista da
Comissão Europeia à altura das aspirações e necessidades dos tempos conturbados
que a Europa atravessa.
Excelente análise com a oportunidade dasperguntas inevitáveis
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