A
OCDE acaba de lançar o Fórum Global para a Competitividade cuja primeira
conferência ocorreu em Lisboa nestes últimos dias. A apoiar esta iniciativa,
aquela organização tem vindo a disponibilizar importante documentação de
suporte que se pode obter através do link http://www.oecd.org/global-forum-productivity/
Um
dos documentos apresentados – o relatório Productivity-Inclusiveness
Nexus – ressalta a constatação de que o abrandamento geral de produtividade
em muitos dos países da Organização se mostra positivamente associado ao
aumento significativo das desigualdades, sob múltiplos aspectos: entre países,
entre regiões e grupos populacionais de um mesmo país, entre empresas na
fronteira tecnológica e empresas que têm ficado para trás… E refere, como mensagem fundamental, o seguinte
desígnio:
a
call for policy makers to adopt a broader, more inclusive, approach to
productivity growth that considers how to expand the productive assets of an
economy by investing in the skills of its people and providing an environment
where all firms have a fair chance to succeed, including in lagging regions (pg. 5).
Cá
temos então, uma vez mais, o investimento em qualificações e competências da
população como uma das condições indispensáveis ao crescimento sustentado e
inclusivo da produtividade. Este aspecto reveste-se de importância fundamental
numa altura em que, no limiar da revolução digital, se corre o risco de ver
agravada a desigualdade entre os detentores do conhecimento e aqueles que a ele
não têm acesso em condições suficientes.
Com
a intensificação do ritmo da inovação tecnológica e a enorme diversidade de
manifestações que ela tende a assumir, o conhecimento converteu-se, assim, no
principal factor de produção dos nossos dias. Conhecimento que pressupõe bases
educativas sólidas, capacidade de prosseguimento de estudos, desenvolvimento
sustentado da investigação, tecnologia e inovação, além da apropriação tão
completa quanto possível dos frutos do conhecimento pelas empresas e pela
comunidade. O desenvolvimento sustentado e inclusivo não é compatível, antes
antagónico, com a apropriação restrita do progresso do conhecimento. Desta
condição decorrem importantes exigências aos governos e às políticas públicas
enquanto instâncias de regulação do processo de conhecimento: a garantia de um
nível mínimo de financiamento à educação, estudos avançados e investigação; a
eficácia na articulação entre oferta e procura de qualificações e competências;
o desenho e implementação de políticas de inovação capazes de promover
efectivos ganhos de produtividade pela afectação sistemática ao tecido
económico das qualificações adequadas e sucessivamente disponíveis; entre
outros aspectos.
Como
nos posicionamos então, no Portugal dos nossos dias, face àqueles requisitos e
exigências?
Sabemos
que se assistiu com o governo anterior a um corte drástico e sistemático nas
componentes do orçamento público destinado a educação e investigação e
desenvolvimento. Conseguirá o orçamento actual fazer a diferença, apesar das
importantes restrições que ainda se verificam?
Não
é necessário repetir o contributo crucial das qualificações de base para o
processo de desenvolvimento do conhecimento. Sendo que se prevê um impacto
significativo da reversão demográfica na diminuição do número de turmas nos
ensinos básico e secundário, estará o governo a preparar um plano coerente de
melhoria da qualidade de ensino com base nos recursos que assim se libertarão?
Será que o regime de tutoria para os estudantes com retenção, que agora se
prepara, poderá ser suficiente para aquela melhoria de qualidade?
Através
do Ministério e da Secretaria de Estado para a Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior temos vindo a tomar contacto com diversas iniciativas destinadas a
facilitar a disseminação do conhecimento e a fazer participar as comunidades no
desenvolvimento científico, sobretudo a nível local[1]. Mas será que face aos
níveis ainda muito insuficientes de qualificação escolar da população
portuguesa, estão de facto reunidas as condições de participação plena e
informada das populações no processo de conhecimento?
Esta
última questão remete-nos para um aspecto que consideramos decisivo: a
necessidade de o regulador – o Estado e seus Ministérios – estar munido de uma
concepção e visão global do processo de conhecimento capaz de servir de suporte
à articulação eficaz entre as diferentes tutelas, evitando-se os bloqueios
institucionais que bem conhecemos.
[1]
Destacamos duas destas iniciativas: os Laboratórios de Participação Pública e
os Orçamentos Participativos de Ciência e Tecnologia, em lançamento.
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