Sobre os feitos do
novo Ministério para a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior temos vindo a
receber, quase diariamente, notícias importantes. Se em parte elas não
surpreendem, dadas a matriz ideológica de referência do novo gabinete e o
grande conhecimento que este Ministro tem do sistema científico e tecnológico
nacional (SCTN), o certo é que as nossas expectativas estão a ser ultrapassadas
pela positiva.
É
notória a intenção de contrapor à concepção elitista que o governo anterior
tinha da política científica, uma abordagem democrática, promotora do mais amplo
acesso ao conhecimento e à ciência, através de um processo de diálogo e
construção para o qual têm sido convidados todos os interessados e
participantes do SCTN (ver aqui).
Também
a situação de precariedade laboral que tão fortemente tem marcado entre nós a
profissão de investigador se encontra em apreciação e debate, surgindo
entretanto algumas propostas de ultrapassagem. Este processo enquadra-se num
movimento mais amplo, envolvendo toda a comunidade científica (reitores e
representantes dos politécnicos, professores, investigadores e estudantes,
representantes das comunidades locais, sindicatos…) e que promove o debate alargado
sobre política científica e o futuro do conhecimento, de modo a reganhar a
confiança daquela comunidade no SCTN.
Uma outra linha de intervenção tem a ver com a indispensável reforma das
instituições de política científica e tecnológica e, muito especialmente, da
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Guarda avançada das finanças portuguesas
e da UE no anterior governo, para o qual o conhecimento mais não era do que um
custo e a política científica uma manta de retalhos, a reforma da FCT constituiu
uma das primeiras prioridades deste executivo: através de um amplo processo de
debate, dinamizado por um grupo de reflexão para o efeito constituído, têm
vindo a suceder-se sessões de esclarecimento e de troca de opiniões sobre a
missão e metodologia de intervenção daquela Fundação. Daqui começam a resultar
novas linhas de referência que deverão servir de guia à nova gestão, entretanto
empossada.
Com vista a reforçar uma das bases fundamentais do conhecimento – o ensino
superior e os estudos avançados – após um tão significativo retrocesso operado
pelo ministério de Nuno Crato, reconsideram-se agora também as condições de
enquadramento e suporte ao desenvolvimento daqueles estudos, designadamente
através das políticas de acção social.
Não se justifica desenvolver aqui a natureza de bem público (ou
semi-público) do conhecimento, razão determinante de uma gestão democrática da
ciência, tecnologia e inovação. Nem o papel de regulação que neste processo só
ao Estado pode caber, tal a tentação de apropriação privada dos frutos do
conhecimento. Dessa função se demitiu quase por completo o governo anterior:
Não deixou, no entanto, de – através de concursos desleais e avaliações
distorcidas - favorecer as condições de apropriação elitista dos resultados das
suas “políticas científicas”, ao serviço do oficial
knowledge e da concorrência internacional do conhecimento mercantilizado.
Ao mesmo tempo que, deliberadamente, ignorou a função social que a ciência e o
conhecimento têm de desempenhar.
Pois bem, apraz-nos sublinhar
uma das medidas que consideramos mais emblemáticas do actual Ministério para a
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), pelo que significa de
reconhecimento do papel do conhecimento no desenvolvimento económico e social:
o lançamento dos Laboratórios de Participação Pública, com o objectivo de estimular o envolvimento do público na
construção de agendas de investigação e inovação e no debate de políticas
públicas para a ciência e tecnologia e a difusão do conhecimento, iniciativa
cuja primeira edição “Nordeste Transmontano: uma região com conhecimento” foi
formalizada a 28 de Janeiro passado (ver aqui).
Mais iniciativas progressistas e
reparadoras poderiam ainda ser referidas como resultado da ainda breve actuação
do MCTES. Este pequeno resumo já nos autoriza, no entanto, a recuperar a
esperança num novo caminho democrático para as políticas do conhecimento em
Portugal.
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