Foram muitas as pessoas que tiveram o
privilégio de assistir, na Gulbenkian, à Conferência de Joseph Stiglitz que,
mais uma vez salientou um dos aspectos mais negativos que afectam as economias mundiais,
ou seja, o da crescente desigualdade de rendimentos, de riqueza e de
oportunidades.
O exemplo da extrema desigualdade que existe
nos EUA serviu para ilustrar o impacto de erradas escolhas de política, em
particular desde a década de 1980, quando ganhou terreno a ideia de que
bastaria ocorrer crescimento económico para que todos dele beneficiassem.
Assim se justificou a entrega, sem reservas, às
forças do mercado, as quais, aproveitando a globalização desregulada,
conduziram a tais níveis de desigualdade que não permitem a ninguém ficar indiferente.
O que está em causa, segundo Stiglitz, é o
impacto das políticas adoptadas a nível macro económico sobre o poder do
mercado e o poder de negociação dos diferentes grupos sociais.
A identificação dos principais mecanismos
geradores de desigualdade é um passo necessário para servir de base a uma
agenda abrangente, em vez de medidas pontuais, que produza alterações nas leis
de trabalho, nas políticas orçamentais e na política monetária.
Infelizmente, foi necessária a evidência
empírica para que o erro de ideias simplistas sobre as desigualdades fosse
reconhecido por largos sectores da sociedade e economistas conceituados estão a
aprofundar a análise neste domínio, dando relevo às sinergias que podem ser
ganhas pela adopção de medidas convenientemente articuladas.
Por exemplo, Robert B. Reich, que, em tempos,
considerava a crescente desigualdade um problema técnico, explicável pelas
alterações tecnológicas exigindo elevadas qualificações, mas com solução
tecnocrática através da expansão do sistema de ensino convencional e da
requalificação, alterou o seu ponto de vista ao admitir, em livro recente, com
o título “ Saving Capitalism: for the Many, Not the Few”, a responsabilidade
que cabe às decisões políticas.
Segundo Reich, citado por Paul Krugman em”
Challenging the Oligarchy”, artigo publicado em The New York Review of Books, há
boas razões para acreditar que os elevados lucros de certas empresas
financeiras, reflectem o abuso de informação privilegiada , e tal só foi
possível porque foi tomada a decisão política de não o regular eficazmente.
De facto, a questão central é o poder das
grandes empresas para influenciarem as decisões políticas a seu favor, daí
resultando a concentração dos rendimentos num pequeno número, numa espiral
imparável de desigualdades.
Uma questão talvez menos estudada é a inter-relação
que existe entre a concentração do rendimento e as instituições do mercado de
trabalho, pelo que é interessante lêr o estudo de duas economistas do FMI,
Florence Jaumotte e Carolina Osorio Buitron, publicado sob o título “Union
Power and Inequality” em Economist’s View, a 22 de Outubro 2015.
As autoras basearam-se em dados de 20
economias desenvolvidas (Portugal incluído) e concluíram que existe uma forte
relação de causalidade entre a menor densidade sindical (proporção de
trabalhadores sindicalizados) e a parcela de rendimento apropriada pelos 10%
mais ricos, sendo certo que o declínio da densidade sindical explica cerca de
40% do aumento médio dos rendimentos apropriados pelos 10% do topo. Assim, ao
contrário do parecer mais comum, de que alterações nas instituições no mercado
de trabalho afectam os rendimentos baixos ou médios, mas não afectam os
rendimentos do topo, comprova-se como estes últimos reforçam a sua posição
quando a sindicalização enfraquece.
Como conclui este estudo, só numa base
país-a-país se pode decidir sobre reformas das instituições do mercado de
trabalho, tendo em atenção a forma como funcionam e possíveis impactos sobre
outros objectivos políticos, tais como a competitividade, o crescimento e o
emprego. ”Enfrentar as desigualdades crescentes, exigirá provavelmente uma
abordagem multi-direccionada, incluindo a reforma tributária e políticas para
reduzir excessos associados á desregulação do sector financeiro”.
Sem querer dar como certo o resultado,
parece-nos que estão a ser dados passos para que na agenda de futuras reformas estruturais,
se inclua também o objectivo de combater o desequilíbrio de poder que tem
alimentado as crescentes desigualdades.
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