Já agora,
deixem-me que vos fale de “condições necessárias e suficientes”. Não se pode
ter um raciocínio rigoroso se não se souber qual é significado de umas e
outras. Uma condição necessária não garante nada; apenas nos diz o que é
necessário para atingir um certo objetivo. Uma condição é suficiente se só ela (não
estou a dizer “só com ela”) bastar para que o objetivo se realize.
Vem isto a
propósito da vozearia que por aí vai acerca de quem é que tem legitimidade para
governar? Podemos procurar justificar uma qualquer opinião, mas não poderemos
fazê-la valer sem ter em conta o que diz a Constituição. Se quisermos que ela
diga outra coisa teremos que mudá-la, primeiro. Tem-se insistido muito na
circunstância (condição) de que quem tem mais votos nas eleições é que deve governar.
É uma condição necessária?
Poderemos,
quando muito, dizer que é uma condição conveniente e que, por isso, o
Presidente da República (PR) quando indigita um Primeiro-Ministro deve ter esta
condição em consideração (tendo em conta os resultados eleitorais . . .). Só
que nem o PR, nem ninguém pode ignorar que a Constituição também diz que o
Governo indigitado deverá apresentar o seu Programa a aprovação da Assembleia
da República e que no caso de o Programa não ser aprovado o Governo que o
apresentou terá de deixar de ser Governo. O PR deverá, seguidamente, desencadear
iniciativas para que seja formado um novo Governo. Mas também este Governo só
será um Governo efetivo se vir o seu Programa aprovado.
Assim sendo,
ganhar as eleições serve para muito, mas não chega para poder governar. Para
isso é necessário ter o “programa” aprovado. Independentemente da forma como lá
chegou quem vê o seu “programa” aprovado tem legitimidade para governar.
A “aprovação
do programa do governo” é uma condição necessária e é, também, uma condição
suficiente, para governar. É uma condição necessária e suficiente. Se quem
apresenta o seu programa ao Parlamento não o consegue aprovar então, ou se
trata de inabilidade sua ou de inabilidade do PR para ler os resultados eleitorais.
Deixem-me
terminar com uma alusão acerca da forma como o envolvimento europeu tem sido
encarado entre nós. Ser membro da União Europeia não significa que se seja,
também, membro da União Monetária (euro). A Grã-Bretanha, por ex. é membro da
União Europeia e não o é da União Monetária; Portugal é membro de ambas as
uniões.
Ora, qualquer
união, e as europeias também, possuem dinâmicas evolutivas, porque o são,
também as realidades em que assentam. Por isso, as uniões europeias têm que ser
instituições nunca acabadas e em permanente transformação. Dizer isto não é o
mesmo que dizer que não devem ser respeitadas as suas normas enquanto elas não
forem alteradas. A este propósito, vejamos uma notícia, surgida há dias no Diário
de Notícias (9-11-15) acerca da forma como o conservador Primeiro-ministro
britânico se pronunciou sobre o seu relacionamento com a União Europeia: "Se não conseguirmos chegar a um acordo e se as
inquietações do Reino Unido não forem ouvidas - o que acredito não acontecerá -
teremos que reconsiderar se esta União Europeia é boa para nós. Como já disse
anteriormente, não afasto qualquer possibilidade", diz o primeiro-ministro
britânico numa mensagem que dirigirá esta terça-feira ao presidente do Conselho
Europeu Donald Tusk.
Afinal,
a União Europeia pode ser discutida pelos britânicos. E por nós não? Perdemos
essa capacidade?
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