Quando se entra num período pré-eleitoral é
necessário que nos interroguemos acerca
do que é a posição das diferentes correntes políticas sobre questões tão
fundamentais como a estratégia que propõem para o SNS, obedecendo aos
requisitos que a Constituição estabelece, em particular, no tocante ao
acesso aos cuidados de saúde .
As opiniões maioritárias das pessoas que
ontem respondiam a um inquérito da TVI 24, traduziam uma insatisfação acerca do
que se está a verificar quanto ao acesso à saúde, dado que muitos portugueses (mais
de um milhão) não têm médico de família e a resposta dos Centros de Saúde
deveria ser mais rápida .
O que sobre este tema foi dito pelos três
médicos entrevistados veio confirmar os motivos de preocupação acerca do futuro
do nosso SNS, se não forem corrigidos os erros cometidos nos 4 últimos anos, em
que medidas avulsas criaram dificuldades
para um bom desempenho, com prejuízo da humanização, da qualidade e do acesso
aos cuidados de saúde.
Do que foi por eles referido, enumero a
seguir os que retive como sendo os que parecem mais negativos no passado
recente:
a) O não reconhecimento de que a saúde é um
problema político, pelo que o SNS não pode ignorar a pobreza, as dificuldades
dos jovens, dos desempregados, das
famílias;
b) A restrição
financeira aplicada indevidamente ao acesso aos cuidados primários, pois este acesso
é barato e deve estar onde as pessoas estão;
c) Muito insuficiente
progressão dos cuidados de saúde primários, desvalorizando boas experiências
como são as Unidades de Saúde Familiares;
d) A falta de visão estratégica na gestão dos
recursos humanos , tendo conduzido, por degradação das condições de trabalho e
cortes nas remunerações, à destruição de equipas de médicos e enfermeiros,
prejudicando seriamente o SNS, com saídas de muitos profissionais para o sector
privado e para a emigração;
e ) A persistente não
integração dos diferentes níveis de prestação de cuidados, quando deveria haver
ao longo do percurso o acompanhamento dos doentes;
f) A falta de autonomia na gestão dos hospitais,
onde está por fazer uma verdadeira reforma;
g) A falta de uma
articulação entre o serviço público e o privado, clarificando o papel
complementar deste último, eliminando conflitos de interesses e a depauperação
dos recursos do SNS;
h) O insuficiente
envolvimento das pessoas para
adoptarem estilos de vida mais saudáveis e colaborarem no correcto uso dos
serviços.
Constatamos, assim, que muito haverá a exigir
de uma mudança de atitude política em relação à prestação deste bem público que
é a saúde, indevidamente penalizado por restrições orçamentais e medidas
erráticas: nem é justo que os profissionais de saúde continuem a «trabalhar nos
limites», nem que as pessoas sofram as consequências de um sistema menos equitativo e eficiente do que aquele a que têm direito.
Em suma, importa conhecer qual o modelo que
cada um dos partidos defende para o sector da saúde, e quais as reformas que,
em coerência, pretendem levar a cabo no
SNS.
Aqui está um conjunto de questões fundamentais para as quais os cidadãos e as cidadãs têm o direito de exigir respostas claras e fundamentadas por parte das diferentes forças políticas afim de poderem fazer citeriosamente as suas escolhas eleitorais no futuro próximo. Mas será que os partidos, o governo, os deputados ouvem este clamor?
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