Iam dois
senhores a caminhar no passeio de uma avenida, em sentido contrário, um quase
a correr e o outro pausadamente. De repente aconteceu o que nenhum deles
esperava. Foram um de encontro ao outro, ficaram atordoados e com alguns
hematomas na cara e nos braços. Recuperada alguma serenidade disse o que vinha
a correr:
- Ouça lá, oh sua animália, então
você anda com a cabeça aonde, para vir, assim, de encontro a mim?
Respondeu o
outro:
- Eu! Então eu que vou aqui a
caminhar devagar e você vem a correr lá de cima, dá-me um encontrão, e diz que
eu é que tenho a cabeça no ar?
Reação imediata:
- Mas eu vou com pressa, não
tenho tempo para andar para aqui a passear;
- Ora essa, quem é que lhe disse que
eu também não tenho pressa; eu vou devagar, mas é para poder chegar a tempo.
Viraram as
costas um ao outro, cada um seguiu o seu caminho, decorados com pequenas
hematoses, um na cara e outro no braço. Algum tempo depois, cabeças serenadas,
começaram a interrogar-se sobre de quem era a culpa do encontrão. Alguém de
fora, que ouviu o relato do episódio disse:
- Ora, ora, de quem é a culpa do
encontrão?!. Naturalmente que é dos dois. Então não foram um de encontro ao
outro? Não foi só um que foi de encontro ao outro!
Grande sabedoria!
Vem esta
história a propósito da greve da TAP anunciada para ocorrer nos dias entre o
Natal e o Ano Novo. Os trabalhadores e os seus sindicatos dizem que fazem a
greve porque pretendem com essa iniciativa mostrar o seu descontentamento com a
anunciada privatização da companhia aérea, companhia de bandeira. O Governo que
tutela a companhia, confirma a intenção da privatização e acrescenta que a
realização da greve nesta ocasião do ano é totalmente inoportuna, quase antipatriótica: vai aumentar a fragilidade financeira da empresa, causar prejuízos
incalculáveis a muitos milhares de famílias, num período particularmente sensível
das suas vivências afetivas e deteriorar a imagem e a competitividade do país
no exterior.
É verdade!
Com grande probabilidade tudo isso pode acontecer. Vamos admitir que os
prejuízos daí resultantes são superiores aos que resultarão, para o país, da
privatização da empresa. O que é que poderá e deverá então ser feito?
Para evitar o
encontrão, isto é, que se venham a verificar os prejuízos há três alternativas
que podem ser seguidas:
1.
Os
trabalhadores retiram a intenção de greve;
2.
O
Governo resolve reequacionar a estratégia de privatização;
3.
O
Governo e os trabalhadores anunciam a intenção de iniciarem um processo de
conversações, sendo que o primeiro mostra abertura para repensar a questão da
privatização.
O que parece claro é que não se pode
dizer que os prejuízos resultantes da greve vão ter enorme impacto e gravidade
e, simultaneamente, manter a rota inicial, que conduz, inevitavelmente, ao encontrão.
Porque é que os prejuízos são uma
consequência da realização da greve e não são uma consequência da teimosia (outros
dirão perseverança) do Governo em manter o propósito da privatização?
Sabe-se que o Governo tem pressa e na
sua marcha atropela pessoas, valores e patrimónios. Não pode é, depois disso, imputar
responsabilidades dos prejuízos causados a quem, mais atento, faz do seu
caminhar a defesa dos valores que suportam a vida em sociedade e o bem-estar coletivo.
A culpa do encontrão não pode, por isso, ser atribuída só a um dos lados.
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