A necessidade de aprofundar os esquemas de Rendimento Mínimo na União
Europeia constituiu a mensagem central que emergiu da conferência ‘Minimum
Income Schemes in Europe’ realizada esta semana em Bruxelas.
Esta conferência permitiu apresentar os principais resultados obtidos até
ao presente pelo Projecto “The European Minimum Income Network (EMIN)”. Este
projecto, promovido pelo Parlamento Europeu e financiado pela Comissão
Europeia, tem sido desenvolvido pela Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN). Entre
os objectivos a que esta iniciativa se propõem destaca-se a necessidade de
construir os consensos necessários para a efectiva implementação e
aprofundamento de sistemas de rendimento mínimos adequados nos países da EU.
Partindo da análise aprofundada dos sistemas de rendimento mínimo
desenvolvidos nos vários países europeus a Conferência realçou que estes
programas constituem não somente um contributo muito positivo para reduzir a
precariedade dos beneficiários mas igualmente uma mais-valia para o conjunto da
sociedade dados os seus efeitos de estabilizadores económicos e de coesão
social, o seu impacto redutor sobre as desigualdades e pela sua capacidade de
apoiar a integração activa das famílias e os indivíduos no mercado de trabalho
e na sociedade.
A Conferência evidenciou igualmente a forte heterogeneidade entre
os vários sistemas existentes. Por exemplo, se considerarmos o valor de
referência do rendimento para um indivíduo que viva sozinho, a disparidade de
valores e de generosidade da medida oscila entre os 22 euros na Bulgária e os
1433 euros na Dinamarca. Recorde-se que em Portugal, após os últimos cortes
efectuados pelo actual Governo, esse valor é de 178.15 euros mensais. Portugal
apresenta o mais baixo valor dos países que constituíam a EU a 15 e um dos mais
baixos do conjunto da EU na sua configuração actual.
Valor Mensal do Rendimento Mínimo (euros /mês)
Indivíduo
Só |
Casal com 2 filhos
|
|
Dinamarca
|
1433
|
3808
|
Luxemburgo
|
1348
|
2267
|
Bélgica
|
817
|
1635
|
Áustria
|
814
|
1514
|
Irlanda
|
806
|
1605
|
Países Baixos
|
667
|
1355
|
França
|
499
|
1049
|
Finlândia
|
480
|
1659
|
Chipre
|
452
|
949
|
Suécia
|
437
|
1358
|
Malta
|
426
|
532
|
Alemanha
|
391
|
1295
|
Reino Unido
|
348
|
1272
|
Portugal
|
178
|
374
|
Rep. Checa
|
124
|
395
|
Lituânia
|
101
|
324
|
Estónia
|
90
|
306
|
Hungria
|
68
|
239
|
Eslováquia
|
62
|
160
|
Polónia
|
100
|
100
|
Letónia
|
50
|
129
|
Roménia
|
31
|
98
|
Bulgária
|
22
|
104
|
O quadro anterior apresenta os valores do Rendimento Mínimo para um
indivíduo que viva sozinho e para um casal com dois filhos. A disparidade dos
valores não pode deixar de nos questionar sobre o significado destas
disparidades e sobre a Europa que temos e queremos. A Europa é não somente um
espaço profundamente desigual no que concerne à distribuição dos rendimentos no
interior de cada país e entre países mas é igualmente um espaço profundamente
heterogéneo na protecção social que dá aos mais desfavorecidos dos seus
membros.
Convém a este propósito recordar que, com a excepção da Dinamarca, todos os
valores de referência atrás ilustrados se encontram abaixo da linha de pobreza
definida em cada país. O objectivo da generalidade dos programas de rendimento
mínimo não é o de retirar as pessoas da pobreza mas o de aliviar a pobreza dos
mais pobres entre a população de cada país.
Face a esta gritante desigualdade nos esquemas de protecção social e dos
apoios aos mais desprotegidos de cada país os participantes na Conferência
realçaram que a nova liderança europeia tem uma responsabilidade acrescida de
implementar medidas concretas para reforçar a coesão social na Europa. O apelo
da Conferência para uma Directiva Europeia sobre o Rendimento Garantido Adequado
constitui um desafio para a clarificação de até que ponto a União
Europeia está disposta a concretizar ou não o discurso sobre uma Europa mais
inclusiva e solidária.
A participação portuguesa, expressa através da intervenção da socióloga
Liliana Pinto co-autora do relatório sobre Portugal, evidenciou claramente as
potencialidades e as fragilidades do programa de rendimento mínimo em Portugal,
destacando o profundo retrocesso na abrangência e na eficácia da medida
ocorrida nos últimos quatro anos em Portugal no quadro, e a pretexto, das
políticas de austeridade negociadas com a tróica. Destacou igualmente a
importância que uma directiva europeia sobre o rendimento mínimo pode
desempenhar para relançar e aperfeiçoar o programa em Portugal.
Na conferência houve igualmente a oportunidade de dar voz aos beneficiários
do rendimento mínimo em Portugal. Um pequeno filme, realizado pela REAPN e pela
equipa portuguesa do projecto EMIN, constituiu um testemunho expressivo do papel
do rendimento mínimo em Portugal e como o recente retrocesso desta medida se
traduziu num agravamento das situações de pobreza e de precariedade social.
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