A eleição de François Hollande e o propósito
por ele manifestado de dar à Europa uma dimensão de crescimento e prosperidade,
tem sido ponto de partida para análises muito diversas acerca do que daí pode
resultar no tocante a uma nova orientação da politica económica da europeia: um
facto irrelevante, um exemplo de irresponsabilidade megalómana, ou, antes pelo
contrário, um sinal de clarividência e de coragem para pôr um travão à politica
de austeridade a todo o custo que tem sido apresentada como a única via possivel
para saír da crise.
Um artigo de Martin Wolf, publicado a 8 do
corrente mês no Financial Times (What Hollande must tell Germany) segue
claramente a segunda corrente de opinião,
ao constatar que para muitos países a austeridade os fecha num ciclo de
depressão, deflação e desespero, prevendo o colapso da união monetária se
continuar a manter-se aquela orientação. E afirma que a última oportunidade de
concretizar a mudança necessária repousa nos ombros de François Hollande, o
único entre os lideres europeus que tem o desejo e a capacidade para tentar.
As previsões do FMI sobre a evolução da
economia para os países com maiores dificuldades, onde a recessão se instala ou
o crescimento económico é muito fraco, e, em especial os dados sobre o
desemprego jovem, são qualificados de assustadores: 51% na Grécia e Espanha,
36% em Portugal e na Itália e 30% na Irlanda.
Este quadro, afirma Martin Wolf, é
politicamente perigoso, dada a emergência de partidos cada vez mais extremistas
e um sentimento crescente de traição mas é também de recear, do ponto de vista
económico, com a perspectiva de emigração dos jovens mais qualificados.
Criticando a assimetria do processo de
ajustamento que tem vindo a ser seguido, penalizador dos países que atravessam
dificuldades, bem como a ideia errada de que as reformas estruturais são
capazes deprovocar um rápido retorno ao crescimento, considera que Hollande
deveria empenhar-se num sério debate com a Alemanha de forma a que esta aceite
a melhor solução possivel para vencer a crise, ou seja, um ajustamento
simétrico dos desequilibrios, contribuindo os países sem problemas com alguma
inflação salarial, paralelamente a reformas nos países mais fracos.
Outras alternativas que enumera seriam sempre
piores, por eternizarem desequilibrios financeiros, depressões quase
permanentes, ou no limite,o desmoronar da zona euro.
Na mesma linha de critica à politica de
austeridade, que nem sequer permite ultrapassar a crise de confiança, também
Stiglitz se pronuncia em artigo publicado no Project Syndicate do dia 7 deste
mês intitulado After Austerity.
Muito preocupado com o desemprego jovem (um
sofrimento desnecessário), preconiza a mudança urgente da politica alemã e uma
outra actuação das instituições europeias, nomeadamente do BCE e do BEI, por
forma a dinamizar o crescimento e o
emprego.
Stiglitz vai ao ponto de qualificar de criminosa
a ignorância voluntária dos lideres europeus acerca das lições do passado.
Fica o aviso de dois economistas de grande
projecção que não pode ser ignorado.
O tempo urge e não se deve desperdiçar qualquer
oportunidade : a eleição de Hollande pode ser uma delas, se ele não ficar
isolado na vontade que manifestou de quebrar a receita da austeridade nos
termos em que tem sido aplicada.
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