A história ensina-nos que as crises, que atravessam as sociedades, não são apenas ocasião de descriação e desconstrução acompanhadas de grandes perdas materiais e de grande sofrimento humano. São-no, certamente, mas podem, também, abrir caminhos de mudança de paradigma económico e societal, levando a novos patamares de conhecimento que permitam formas mais avançadas de organização da vida colectiva.
Face à crise actual, torna-se imperativo um redireccionamento da economia para o bem das pessoas e para o desenvolvimento sustentável.
Para tanto, precisamos de repensar os fundamentos da ciência económica e deixar de persistir numa racionalidade meramente instrumental, afim de passar a re-colocar no centro da construção do pensamento económico as finalidades últimas a prosseguir: a satisfação das necessidades das pessoas e o desenvolvimento sustentável das suas comunidades.
Neste indispensável percurso hermenêutico, que o desenrolar da crise vem reclamando, as mulheres poderão – e deverão – assumir um papel criativo.
Estando, em geral, mais próximas da vida e das necessidades humanas, desenvolvem capacidades próprias para melhor enfrentar os problemas concretos com que deparam.
Encontrando-se menos condicionadas por esquemas do passado, estarão melhor colocadas para inovar com criatividade.
Apesar dos progressos registados, a percentagem de mulheres que ocupam lugares de maior responsabilidade nas administrações das grandes empresas continua reduzida e mesmo na administração pública e nos órgãos de governação política tal proporção fica manifestamente aquém do que corresponderia a uma real paridade. Há, certamente, que corrigir esta situação com meios adequados, incluindo o combate a estereótipos através de informação dissiminada.
Não basta, porém, alcançar cotas estatísticas mais elevadas. Como dizia Alessandra Smerilli, numa conferência em 2009: O papel da mulher na esfera económica nunca será reconhecido plenamente na economia (economy), enquanto a ciência económica continuar a olhar para o mundo com o olhar míope da racionalidade instrumental, e até que um maior número de mulheres passe a ocupar-se da economia como ciência económica (economics). A economia (entendida como ciência), como todas as ciências humanas, vive de facto o problema da dupla hermenêutica: aquilo que se teoriza, uma vez que se teoriza sobre a pessoa alterará de alguma maneira o modo de ser da pessoa.
Em dia Mundial das Mulheres, vale a pena não passar ao lado destas reflexões. Em particular deixo aqui um desafio às mulheres docentes e investigadoras na área da economia para uma reflexão e debate acerca do seu papel na construçõ de um novo paradigma da Ciência Económica. Talvez que a Amonet - Associação das mulheres cientistas - aceite a proposta e a ponha em marcha. Seria um bom marco neste Dia Mundial das Mulheres em 2012.
Fica a sugestão para a consulta do estudo divulgado hoje, véspera do Dia Internacional da Mulher, pelo INE e que vem no jornal Público.
ResponderEliminarMulheres portuguesas são mais pobres, mais sós e vivem mais tempo
Agradeço à Maria do Céu a informação deixada no seu comentário e acrescento, para quem desejar aprofundar o tema, a indicação do link para o texto em que vem publicada uma análise estatística acerca da situação das mulheres em Portugal. Vem em http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=135739962&DESTAQUESmodo=2
ResponderEliminarEstá de parabens o INE pela publicação deste número do DESTAQUE para celebrar O Dia Internacional da Mulher.