No mundo da complexidade financeira em que vivemos e tanto influencia a nossa economia real, a sociedade e até as vivências pessoais do simples cidadão, mesmo que este nada deva aos bancos, são bem vindos os textos que ajudem a conhecer a teia dos mecanismos da finança mundial. Por isso quero assinalar estas esclarecedoras notas do Prof. Júlio Mota e proporcionar aos leitoras e leitoras deste blogue a oportunidade de terem acesso a uma informação consistente, clara e bem documentada sobre este produto financeiro designado por credit default swap, uma espécie de seguro contra um eventual incumprimento de crédito, com características muito específicas que o tornam particularmente vulnerável à especulação.
Do referido texto de 18 páginas, generosamente disponibilizado pelo seu Autor, e também a publicar no seu blogue estrolábio, ressalto três parágrafos, para aguçar a curiosidade de uma leitura completa.
Os CDS são transaccionáveis e, portanto, tendem a ser encarados como autênticas garantias que podem ser vendidas em qualquer momento. Os agentes nestes mercados compram-nos não porque esperam uma eventual situação de incumprimento, mas sim porque esperam que os CDS variem de preço em resposta à evolução da situação financeira, da empresa ou do país. Os títulos descem, o medo instala-se, num movimento de Panurge, a procura de CDS aumenta, o prémio de risco aumenta, e pode-se voltar a vender os CDS que comprados, por exemplo, a 2% podem ser vendidos agora a 5 ou 6% aos múltiplos gestores de contas, de fortunas, aos fundos de pensão das seguradoras, etc...E se o pânico continuar a crescer, quem os compra, volta também a especular, vai vendê-los a uma taxa mais alta e, por cada subida de taxa, por cada acesso de pânico, por cada subida de CDS, esta repercute-se nas emissões seguintes do Tesouro Público de cada país e são os Estados soberanos que afinal estarão a pagar tudo, e tudo porque se permite esta arma mortífera contra os Estados, as vendas a descoberto ou o seu equivalente, os CDS.
(…) os CDS acabam por ser instrumentos financeiros perigosos e poderosos, sobretudo, porque se permite como existência os CDS nus, isto é, haver seguros de títulos sem título (…)
Recordando a posição do Comissário europeu, Michel Barnier (“O período difícil que atravessamos ensinou-nos que a finança tem uma incidência social e económica demasiado importante para ser deixada na sombra: nenhum sector, nenhum instrumento, nenhum lugar deve escapar à regulação. É tempo de reforçar a governança e a regulação dos mercados dos produtos derivados negociados fora da bolsa e de contribuir assim para a melhoria do sistema financeiro a fim de que ele traga também a sua total contribuição a um crescimento durável da economia europeia. Nós não temos o direito de falhar”), o Prof. Júlio Mota conclui: todos temos o direito e a obrigação de agir politicamente no mesmo sentido e nas múltiplas formas possíveis, face ao objectivo claramente enunciado pelo Comissário Michel Barnier, mas ele sabe, e nós também, que não vai ser um combate fácil (…).
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