Com este post é minha intenção procurar chamar a atenção para “novidades” que vêm acontecendo e que em muito condicionam o futuro das portuguesas e dos portugueses. A algumas destas questões já fiz alusão em posts anteriores.
Nas últimas semanas muito se tem falado, senão ameaçado, com a possibilidade de bancarrota do Estado Português. Com o clima criado, voluntariamente ou não, têm-se vindo a suscitar estados de ansiedade e de medo sobre uma parte importante, porventura a menos esclarecida, da sociedade portuguesa.
Simultaneamente, têm vindo a ser divulgadas posturas e iniciativas que abrem horizontes de esperança ao nosso orgulho de “ser colectivo”. Vide por ex.: a petição sobre o “Pluralismo de opinião no debate político económico”, o último programa de “A voz do cidadão” da RTP 1 e a entrevista do Prof. Nuno Ferrand de Almeida ao Público.
Mas vamos por partes. Antes de mais a bancarrota. Até há relativamente poucas décadas não era muito comum falar-se de bancarrota a propósito dos Estados. Quem ia à bancarrota eram as empresas ou as pessoas. Tal acontecia quando deixavam de ser capazes de cumprir os seus compromissos, ficando numa situação de insolvência ou falência. Os Estados, dada a sua natureza, nunca seriam candidatos a situações de falência. A crescente interdependência dos Estados torna a perspectiva da bancarrota mais real.
No título acima quis chamar a atenção para a fragilidade das situações de bancarrota e, por isso escrevi “banca rota”. Quer isto dizer que, no caso dos bancos, eles estariam como que rotos, i. e. incapazes de segurarem tudo o que lá se coloque. A imagem é sugestiva, mas não é necessariamente verdadeira. Hoje, por ex. temos vindo a verificar que os bancos precisam de mais e mais dinheiro, para poderem conceder crédito, e é para isso para que eles existem e se tornam indispensáveis. O problema não está no exercício desta sua vocação genérica, mas na utilização dos créditos que concedem, não poucas vezes para financiamento de actividades especulativas de alto risco.
Os Bancos financiam-se a taxas de juro baixas (no Banco Central Europeu (BCE), por ex.) para depois colocarem os capitais assim disponibilizados em mercados com taxas de juro mais do que compensadoras, como por ex. o financiamento da dívida dos EUA. Só que as taxas de juro baixas do BCE somos todos nós que as pagamos, e os capitais que deveriam servir para financiar o arranque das nossas economias têm destinos diversos, como se vê.
Entretanto, a visão do mundo que uma grande parte de nós vai construindo é condicionada pelo que vemos e ouvimos através da janela que nos é aberta pela comunicação social. Muito se tem invocado a objectividade dessa visão, afirmando-se que estará garantida desde que se verifiquem os pressupostos da liberdade e da concorrência dos mercados da informação. Esquece-se, contudo, que para isso fosse verdade seria necessário que estivéssemos perante mercados de concorrência perfeita, o que está longe de ser o caso.
Assim, a visão que os media nos têm dado é uma visão de interesses dos proprietários das empresas de informação, que com raras e honrosas excepções, são os interesses do capital financeiro.
É, por isso, que vemos surgir nos grandes areópagos da informação apenas a discussão dos interesses de uma das partes, colocando em pedestais cimeiros valores que sendo importantes, não valem só por si, como é o caso do deficit. Mais do que nunca se justifica a expressão: “há mais vida para além do deficit”. Importa discutir o deficit, mas não apenas o deficit. Mais importante, porque o primeiro lhe é instrumental, importa assumir qual o futuro que queremos fazer, com as opções de deficit que forem adoptadas.
Para que uma reflexão séria possa acontecer é imperioso que os actores dessa reflexão tenham representatividade, para que seja diversificada e plural. Não temos capacidades técnico-económicas semelhantes à de outros países da Europa desenvolvida mas, felizmente, que é possível evitar que continue a “acontecer mais do mesmo”. Os economistas que têm vindo a ser chamados para discutir esta questão (alguns deles nem sequer são economistas) têm certamente opiniões relevantes a serem conhecidas, mas isso não significa que para o futuro do país não seja tanto ou mais relevante conhecer os pontos de vista de outras correntes de opinião. Felizmente que as há e das boas.
Há sinais que surgem no horizonte que nos permitem acreditar que o medo pode ser derrotado e que a esperança num outro mundo é possível e desejável. Portugal e os portugueses continuam a ter futuro, assim nos mobilizemos para que ele aconteça e um dos seus pressupostos é a rejeição das vias determinísticas.
Referenciei acima alguns desses sinais. Será que do programa a “Voz do Cidadão" vão resultar decisões que tornem a informação pública mais plural?
A petição reclamando um maior “Pluralismo de opinião no debate político-económico” vai no mesmo sentido, sendo surpreendente, ou talvez não, a rápida e alargada adesão que obteve.
Finalmente, a entrevista ao Prof. Nuno Ferrand de Almeida deixa-nos mergulhados numa brisa na qual somos todos chamados a construir um Portugal novo, porque há muito de bom que no nosso país nos pode permitir vir a dar o salto. Não quer dizer que para termos soluções de longo prazo todos os ingredientes já estejam reunidos, mas estamos caminhando na direcção certa e com ritmos de aceleração cada vez mais elevados.
As mudanças que no nosso país aconteceram nos últimos 20 anos são disso um pronuncio decisivo. Do mesmo modo que se têm vindo a formar recursos e competências que permitem estarmos presentes nos melhores campeonatos da biodiversidade, é também verdade que já existem recursos bastantes para que econodiversidade possa acontecer. Não deixemos, no entanto, que um cepo seja posto por cima das esperanças que vêm despertando.
Bom texto. Sereno, consciente e realista.Aprendi mais um pouco.
ResponderEliminarÉ isso, não nos podemos deixar levar pelas aves agoirentas que fazem o jogo dos especuladores financeiros.
Muito obrigado.
António Marquês
Mas como é que com o Liberalismo económico em que cada qual se safa como pode,nem que seja espezinhando o semelhante,como poderá haver economia social,espírito colectivo,quando há galifões com escandalosos ordenadões em contraste com milhões de pobres que passam fome e sobrevivem na miséria?!
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