Quando em 3 de Novembro de 2021 procedemos aqui a uma breve análise dos efeitos da COVID-19 sobre a educação em Portugal, baseámo-nos na base de dados PORDATA para os indicadores então apresentados. Essa informação, embora correcta, só por si não adiantava muito sobre a situação dos jovens portugueses perante a educação e o que terão sofrido com a pandemia, além de outros aspectos.
Com
efeito, muitos autores chamam a atenção para o facto de a pandemia ter vindo a
agravar a multiplicidade de interacções entre os aspectos sociais, económicos e
ambientais, ampliando as desigualdades existentes à partida[1]. Defende-se, então, a
necessidade de uma abordagem baseada nos conceitos mais amplos de bem-estar e
sustentabilidade, e, portanto, de âmbito multidimensional. Aqui, reteremos
apenas alguns indicadores relativos à educação.
O
relatório da OCDE Education at a Glance 2021 reflecte já em parte aquela
multidimensionalidade, mantendo embora a estrutura tradicional, mas enriquecida
com mais dimensões de análise, como a da população imigrada. Permite-nos,
então, uma visão mais completa da situação perante a educação dos jovens
residentes em Portugal.
Assim,
e por exemplo, constatamos que a percentagem de jovens dos 15 aos 29 anos residentes
em Portugal que não estão em educação ou formação nem empregados (NEET),
aumentou consideravelmente com a
pandemia, cerca de 2 pontos percentuais entre 2019 e 2021. Por outro lado, o mesmo relatório também nos
informa que cerca de 45% destes NEET são inactivos, não desenvolvendo qualquer
iniciativa para procurar activamente emprego ou ocupação.
Por
outro lado, a caracterização da população imigrada perante a escolaridade
também pode começar agora a fazer-se. Sublinhando-se a natureza ainda
exploratória da informação desta natureza, revela-nos que a percentagem de NEET
entre os jovens imigrantes é idêntica à dos jovens portugueses quando os
primeiros chegam ao nosso País antes dos 15 anos. A situação escolar dos jovens
imigrantes face aos nacionais vai-se deteriorando à medida que aumenta a idade
com que chegam ao nosso País.
Também
é possível constatar que os jovens imigrados não pesam mais do que os
portugueses nos níveis mais baixos de escolaridade, designadamente inferiores ao
12º ano.
Estes
exemplos são só por si suficientes para nos levar a pensar no vasto campo de
análises que assim se abre com esta metodologia de abordagem mais rica e
exigente. Poderemos, então, estar a criar condições para obter respostas a
questões como as seguintes:
-
quais os reais efeitos da pandemia sobre a situação escolar e de emprego dos
jovens residentes em Portugal?
- como
comparam os jovens imigrados com os nacionais do ponto de vista educativo?
- até
que ponto “pesam”, de facto, os
imigrantes no sistema educativo português?
Graça Leão Fernandes
Margarida Chagas Lopes
[1] OECD (2021). Covid - 19 and Well-being: Life in the Pandemic. https://www.oecd.org/wise/covid-19-and-well-being-1e1ecb53-en.htm
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