“As crescentes desigualdades de rendimento e as ainda maiores desigualdades na distribuição da riqueza, a par da insegurança que a automação tende a acentuar, estão a provocar uma deterioração do bem-estar em muitas economias avançadas e a por em risco a sua prosperidade futura”.
É com esta introdução que Project Syndicate apresenta, em 9 de Abril, o artigo de Diane Coyle, How the Market is Betraying Advanced Economies[1].
De facto, chegados a um ponto em que os sinais de descontentamento de largas franjas da população não podem já ser escondidas, as forças políticas no mundo desenvolvido procuram ainda um caminho para lhes fazer face, quebrado que está o contrato social do período que se seguiu à 2ª Grande Guerra.
Não surpreende que esta questão seja particularmente aguda num país tão rico como os Estados Unidos da América que, a partir da década de 80 do século passado defendeu, pôs em prática e “exportou” um modelo económico ultra liberal.
Como refere Joseph Stiglitz em artigo que vem publicado em The New York Times de 19 de Abril[2]:
“Apesar das mais baixas taxas de desemprego desde finais dos anos 60, a economia americana não está a responder aos seus cidadãos. Cerca de 90% viram estagnar ou reduzir os seus rendimentos nos últimos 30 anos. Isto não é surpreendente, dado que os E.U.A. têm o maior nível de desigualdade entre os países avançados e um dos mais baixos níveis oportunidade - (…)”.
O sistema económico americano é, no seu entender, responsável pelo círculo vicioso em que se encontra, pois a maior desigualdade económica conduz a maior desigualdade política, ao enfraquecimento da regulação, criando ainda maior desigualdade económica.
Será que, como afirma, a alternativa é um “Capitalismo Progressista”, entendendo-se como tal um modelo em que o estado possa desempenhar um papel vital que leve os mercados a servir a sociedade?
É esta a tese que Stiglitz defende no seu último livro “People, Power and Profits: Progressive Capitalism for an Age of Discontent” e que se baseia num novo contrato social entre os votantes e os eleitos, entre os trabalhadores e as empresas, os ricos e os pobres, entre os que têm emprego e os desempregados ou sub-empregados.
Em qualquer caso, a ideia que nos parece fundamental é a de que urge travar o poder desmesurado do mercado e os abusos dos que dele se aproveitam - os grupos rentistas - manipuladores das regras de jogo a seu favor.
Ao Estado cativo desses grupos há que opor a vontade colectiva, esclarecida e democrática, defendendo a reconfiguração do Estado Social, reforçando-o, para o adaptar a novas realidades.
Longe de ser uma utopia este parece ser, cada vez mais, um projecto que pode mobilizar toda a sociedade e dar novo ímpeto ao sentido de coesão social que se vem degradando a olhos vistos.
[1] https://www.project-syndicate.org/commentary/free-market-neoliberal-policy-west-by-diane-coyle-2019-04
[2] Progressive Capitalism Is Not an Oxymoron - https://www.nytimes.com/2019/04/19/opinion/sunday/progressive-capitalism.html?searchResultPosition=2
É com esta introdução que Project Syndicate apresenta, em 9 de Abril, o artigo de Diane Coyle, How the Market is Betraying Advanced Economies[1].
De facto, chegados a um ponto em que os sinais de descontentamento de largas franjas da população não podem já ser escondidas, as forças políticas no mundo desenvolvido procuram ainda um caminho para lhes fazer face, quebrado que está o contrato social do período que se seguiu à 2ª Grande Guerra.
Não surpreende que esta questão seja particularmente aguda num país tão rico como os Estados Unidos da América que, a partir da década de 80 do século passado defendeu, pôs em prática e “exportou” um modelo económico ultra liberal.
Como refere Joseph Stiglitz em artigo que vem publicado em The New York Times de 19 de Abril[2]:
“Apesar das mais baixas taxas de desemprego desde finais dos anos 60, a economia americana não está a responder aos seus cidadãos. Cerca de 90% viram estagnar ou reduzir os seus rendimentos nos últimos 30 anos. Isto não é surpreendente, dado que os E.U.A. têm o maior nível de desigualdade entre os países avançados e um dos mais baixos níveis oportunidade - (…)”.
O sistema económico americano é, no seu entender, responsável pelo círculo vicioso em que se encontra, pois a maior desigualdade económica conduz a maior desigualdade política, ao enfraquecimento da regulação, criando ainda maior desigualdade económica.
Será que, como afirma, a alternativa é um “Capitalismo Progressista”, entendendo-se como tal um modelo em que o estado possa desempenhar um papel vital que leve os mercados a servir a sociedade?
É esta a tese que Stiglitz defende no seu último livro “People, Power and Profits: Progressive Capitalism for an Age of Discontent” e que se baseia num novo contrato social entre os votantes e os eleitos, entre os trabalhadores e as empresas, os ricos e os pobres, entre os que têm emprego e os desempregados ou sub-empregados.
Em qualquer caso, a ideia que nos parece fundamental é a de que urge travar o poder desmesurado do mercado e os abusos dos que dele se aproveitam - os grupos rentistas - manipuladores das regras de jogo a seu favor.
Ao Estado cativo desses grupos há que opor a vontade colectiva, esclarecida e democrática, defendendo a reconfiguração do Estado Social, reforçando-o, para o adaptar a novas realidades.
Longe de ser uma utopia este parece ser, cada vez mais, um projecto que pode mobilizar toda a sociedade e dar novo ímpeto ao sentido de coesão social que se vem degradando a olhos vistos.
[1] https://www.project-syndicate.org/commentary/free-market-neoliberal-policy-west-by-diane-coyle-2019-04
[2] Progressive Capitalism Is Not an Oxymoron - https://www.nytimes.com/2019/04/19/opinion/sunday/progressive-capitalism.html?searchResultPosition=2
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