Dia após dia somos confrontados com o drama
de migrantes e refugiados que na Europa procuram uma vida melhor, ou
simplesmente defender a sua sobrevivência, ameaçada pela miséria, os conflitos
ou os desastres ecológicos.
Sendo certo que a pressão migratória se
manterá no futuro é preocupante que a Europa ainda não tenha tido a capacidade
de se mobilizar para lhe dar uma resposta eficaz e digna, sinal de que algo
está a falhar na compreensão do fenómeno migratório e de seu impacto sobre a
política e a harmonia social.
São já bem visíveis os avanços de
nacionalismos xenófobos, alimentando-se o risco de acelerada degradação da
democracia europeia.
O jornal Libération publicou, no dia 3 deste
mês de fevereiro, um artigo de Eric
Favereau e Thibaut Sardier – sobre uma conversa entre dois sociólogos de
renome - Edgar Morin e Alain Touraine – em torno da sua visão de um mundo
igualitário e solidário, ambos manifestando a convicção de que o olhar europeu
sobre os migrantes é uma “questão teste” que se coloca a uma União em declínio.
Da leitura deste artigo, apresento a seguir
algumas notas de leitura, apenas com o intuito de chamar a atenção de outros,
bem melhor preparados, e, em geral, de quem sente vergonha por aquilo que se
passa no Mediterrâneo, para que não desistam de uma Europa democrática.
Para Touraine o fundamental, muito para além
da questão de deixar ou não entrar os imigrantes, é saber se aceitamos uma
visão do mundo igualitária ou seja, se queremos mesmo “apagar a imensa nódoa de
uma experiência de dominação, ligada à colonização, à escravatura, à
inferioridade das mulheres“.
Assim, migrantes e mulheres ocupam o mesmo
plano na humanidade que se deve reconhecer como uma unidade, um conjunto de
seres em que todos são iguais e livres:” liberdade, igualdade, fraternidade”, a
que Touraine gosta de acrescentar a noção de” dignidade”.
Apesar de todas as dificuldades sentidas, sendo
a mais recente o fracasso de uma tentativa de construir uma lista “Para uma
Europa migrante e solidária” tendo em vista as eleições do Parlamento Europeu,
Touraine mantém o imperativo da defesa da Europa, considerando o que de
positivo ela tem construído, e propõe que seja reorganizado o debate em torno
do tema geral da democracia em ordem a uma posição comum.
A perspectiva de Edgar Morin é também a de
que é necessário apelar ao nosso sentimento de identidade humana, pois todos
têm a mesma capacidade de sofrer, amar e sentir, mas é igualmente importante
reconhecer, ao mesmo tempo, a sua diversidade. Admite que poderá formar-se uma ”barreira
psicológica” à entrada (ou à permanência) de estrangeiros que tendem a ser não tolerados,
sobretudo em situação de crise económica ou civilizacional.
Para Morin, mais pessimista do que Touraine, a
forma de pensar das elites dominantes, baseadas no cálculo económico e no
lucro, levam-no a descrer do futuro da Europa, vítima de forças disruptivas
demasiado fortes: domínio da economia financeira, tendência para regimes postdemocráticos
e autoritários.
Mas acredita na multiplicação de oásis de
resistência, ligados entre si pela ideia de fraternidade humana e universal.
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