Há pouco mais de dois anos, na Assembleia Geral
da ONU, os 193 estados-membros aprovaram por unanimidade a Declaração de Nova
York sobre Refugiados e Migrantes.
Seguiram-se complexas negociações
intergovernamentais que vieram a culminar na aprovação de dois Pactos Globais,
o primeiro a 17 do corrente mês de dezembro sobre Refugiados e o segundo, já
aprovado em Marraquexe no dia 12, estará hoje a ser votado para ratificação na
A.G.
Portugal manteve uma posição de apoio ao
longo do processo e subscreve os dois Pactos, em coerência com os princípios
que tem sempre defendido e que inspiraram a nossa legislação e a nossa atitude
perante as Migrações.
É muito reconfortante ver hoje reconhecida,
nos Pactos Globais, a necessidade de compartilhar,
a nível global, a responsabilidade por salvar
as vidas dos migrantes e refugiados e proteger os seus direitos, tal como o
Papa Francisco sublinhou na sua Mensagem para o ano de 2018.
A adesão será largamente maioritária, mas o
que se conhece até agora é que o apoio à causa dos Refugiados é mais forte (181
países) do que a dos Migrantes, sendo de assinalar para ambas a recusa, já
esperada, dos EUA.
Não menos preocupante é o facto de nem todos os países da U.E.terem subscrito o Pacto relativo aos Refugiados,
sinal de que está longe de terem sido assimilados os valores defendidos pelo
projecto europeu e as obrigações de acolhimento que tão desigualmente têm
estado a ser partilhadas na Europa.
Pela positiva, o que assinalamos é a tomada
de consciência acerca das vantagens de contrapor à corrente defensora da
construção de muros - desumanos e totalmente ineficazes - uma atitude racional
à entrada de Migrantes, respeitando os direitos humanos fundamentais.
Sabemos bem que estes Pactos não são
instrumentos jurídicos que imponham obrigações aos estados-membros. Os seus resultados
vão depender, em grande parte, da tomada de consciência, por parte das
populações, não só do seu dever de acolhimento de Migrantes e Refugiados, como
também da capacidade de levar à prática políticas de combate às desigualdades,
não só dentro de cada território como entre os diferentes territórios, desde
logo entre os africanos e os europeus (v.g. artigo de Branko Milanovic
publicado em Social Europe de 6 de julho de 2018 Europe’s Curse of Wealth).
Parece-nos também muito importante não
negligenciar os focos de resistência à entrada de Migrantes que surgem nos
países europeus e não só por razões puramente ideológicas: o sentimento de
abandono e de insegurança quanto ao futuro, que afecta as vítimas da
globalização desregulada, os desempregados de longa duração e, em particular os
jovens europeus, são alguns dos males que alimentam a xenofobia e incentivam a
tentativa do fecho de fronteiras.
Cabe a cada país honrar o compromisso
assumido pela assinatura dos Pactos sobre Refugiados e Migrantes, mas é
fundamental que, nas medidas que tenham que adoptar, possam contar com o apoio
de novas políticas e o funcionamento mais democrático das instituições da União
Europeia.
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