Estamos a assistir em Portugal,
e mais concretamente nas nossas principais cidades, a uma grande manifestação
dos motoristas de táxis, que pretendem evitar a entrada em vigor em Novembro da
lei que regula a actividade dos operadores de transportes ligados a plataformas
electrónicas, de que a mais conhecida é a UBER.
Estas manifestações são
reveladoras das preocupações e das incertezas ligadas às profundas mudanças que
se estão a verificar no mundo do trabalho, mudanças estas que estão já a
acontecer e não se situam num futuro mais ou menos longínquo.
Os principais problemas
com que nos defrontamos no que se refere ao trabalho estão relacionados com a
previsão sobre quais as qualificações que vão desaparecer e as que vão crescer,
qual o balanço entre as perdas e os ganhos, como vão evoluir as condições de
trabalho e qual a protecção social a conceder às novas modalidades de trabalho.
Embora já existam algumas
projecções sobre as profissões onde se vão verificar as maiores perdas,
admite-se que o emprego pode crescer a prazo, ou seja, que o saldo entre ganhos
e perdas de emprego vai ser positivo, a exemplo do que aconteceu no passado,
após o aparecimento de novas formas de produzir, induzidas por transformações
tecnológicas. Contudo, cada vez mais se tem vindo a alertar para os cuidados
que devem ser colocados durante o período de transição, sob pena de se perder o
controlo da mudança e se comprometer seriamente o futuro.
Pergunta importante é a
de saber se existem condições políticas para gerir as transformações que se
estão a fazer sentir e como é que as instituições devem funcionar durante o
período de transição. Se quisermos preservar os valores ligados ao trabalho,
construídos com tanto esforço ao longo do tempo, e evitar a sua desvalorização
e fragmentação, são necessárias ideias novas e alterações nas instituições.
Nesta conformidade, têm
vindo a ser defendidas medidas relacionadas, por exemplo, com o rendimento básico universal, o imposto
negativo, ou uma garantia de emprego a assegurar pelo Estado, as quais têm
porém que ser objecto de uma profunda reflexão, com vista a ajuizar das
respectivas vantagens ou desvantagens. Para além disso, são necessárias mudanças
nas atitudes, na educação, nas relações de trabalho, no sistema de segurança
social, etc., consentâneas com os desafios colocados à construção do futuro e com
o desenvolvimento do Estado Social, porventura diferente daquele que nos
habituámos a conhecer mas que resultará de uma construção colectiva, para a qual
é necessário o empoderamento dos cidadãos.
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