O Relatório Global sobre os Salários
2016/2017, da Organização Internacional do Trabalho, (www.ilo.org/public/portugue/region/europro/lisbon/pdf/rel_global_salarios_2016_pt.pdf), chama a atenção
para um conjunto de questões que não nos pode deixar ficar indiferentes, uma vez que a situação dos salários, a nível
mundial e, também, em Portugal, apresenta traços preocupantes. Com efeito, o
crescimento dos salários reais tem vindo a diminuir
significativamente nos últimos anos. Em Portugal, a desaceleração dos salários
reais iniciou-se em 2010 e manteve-se constante em 2015.
Acresce
que o crescimento dos salários tem ficado sistematicamente abaixo da evolução
da produtividade, desde 1999. Isto significa que os salários não estão a
beneficiar dos aumentos registados na produtividade, o que tem também
contribuído para o declínio da parte representada pelos rendimentos do trabalho
no rendimento nacional (60% e 51%, respectivamente em 2002 e 2015, em
Portugal).
As desigualdades salariais conheceram
igualmente uma subida acentuada. No caso português, esta subida está também
associada a alterações no padrão de emprego e nas condições de trabalho,
designadamente no que respeita ao aumento das formas de emprego não
convencionais (empregos temporários, estágios, etc.), o que tem proporcionado
um aumento da precariedade e do peso daqueles que, embora estando empregados,
são contabilizados como pertencendo ao grupo dos pobres.
A
evolução em presença foi favorecida pelo declínio da contratação colectiva do
trabalho, a desregulação das forças de mercado e o recuo das políticas
públicas. Importa,
por isso, apostar na centralidade do trabalho como fonte de realização, sob
pena de se aumentar o risco de se agudizarem ainda mais as desigualdades
salariais e sociais, as quais estão a afectar segmentos crescentes de
trabalhadores, mesmo os mais jovens, onde a desvalorização do trabalho se faz
sentir de forma muito particular, designadamente os mais qualificados e
detentores de um nível de educação superior.
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