Notícias recentes falam-nos
da inovação prevista no domínio das aprendizagens de base e no do
desenvolvimento do processo científico. Referimo-nos, por um lado, à anunciada
revisão dos currículos dos ensinos básico e secundário, no seguimento do
relatório coordenado por Guilherme de Oliveira Martins; e, por outro, a mais um
encontro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior com vista a
promover um amplo conhecimento sobre algumas das suas iniciativas renovadoras,
neste caso a dos Laboratórios Colaborativos.
Não iremos aqui reflectir em
profundidade sobre cada um daqueles aspectos, já que outros espaços e fora o podem fazer com muito mais pertinência.
Afirmamos, antes, a nossa atenção expectante sobre os desenvolvimentos destes
anúncios.
Incluimo-nos no grupo dos
que lamentam a inexistência de uma abordagem global do processo de
conhecimento: que articule diferentes áreas científicas; que, articulando-as,
não se limite a justapô-las e, muito menos, a hierarquizá-las para efeitos de
financiamento da investigação; que integre de forma consistente os vários tipos
de aprendizagens, sequenciais mas também decorrentes de diferentes tipologias
de formalização e de relação (ou não) com a profissão. E, especialmente, que
tal abordagem decorra, finalmente, de trabalho articulado e consistente entre
as diversas tutelas, nomeadamente os Ministérios da Educação e o da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). É sobretudo relativamente a este último
aspecto que se adensa a nossa expectativa.
O MCTES tem vindo a apoiar o
ensino superior – especialmente o politécnico – na facilitação do incremento do
acesso dos estudantes do ensino profissional, habitualmente minoritários,
havendo já resultados positivos em alguns institutos politécnicos. Ao mesmo
tempo, tem anunciado medidas tendentes a ”alargar a base social do ensino
superior”[1]
e a melhorar o enquadramento dos recém-chegados àquele grau de ensino a fim de
combater o abandono escolar. Por sua vez, no elenco das competências básicas
que agora se propõem para um diplomado com o ensino secundário[2]
integram-se dimensões do conhecimento que cada vez mais se consideram
indispensáveis para o prosseguimento de estudos superiores: tal é o caso das
competências comunicacionais e relacionais, da capacidade de abordagem
integrada e supra disciplinar de problemas concretos, da apetência pelo
aprofundamento e investigação, para não falar nas competências cívicas, entre
outras.
Fundamental seria que nos
anunciassem, então, quais as metodologias concebidas e em implementação para
promover a articulação e consistência efectivas
dos procedimentos de reforma que as duas tutelas – MCTES e Ministério da
Educação – tencionam levar a cabo, já que protagonizam a coordenação dos
processos chave da constituição do conhecimento.
Que não nos defrontemos com
mais uma oportunidade perdida!
[1] Como
pode ler-se na página institucional do MCTES, em http://www.portugal.gov.pt/pt/ministerios/mctes/noticias/20161215-mctes-ensino-superior.aspx
[2] E que o
documento de referência ilustra com a alegoria ao homem vitruviano, esperando
nós que sem obrigar à imobilidade do centro vital…
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.