A decisão que o Eurogrupo acabou de tomar no
dia 5 de Dezembro, ao não apoiar uma proposta da Comissão Europeia para
estimular a débil economia da área do euro, não sendo surpreendente, nem por
isso deixa de ser de extrema gravidade, aumentando a já existente divisão entre
países credores e devedores e contribuindo para alimentar a instabilidade
política criada por movimentos radicais que espreitam a sua oportunidade de
domínio.
O que estava em causa era um estímulo de 0,5%
do PIB, da ordem de 50.000 milhões de euros, e, com a Itália ausente do debate,
apenas cinco países (Portugal, França, Espanha, Irlanda e Grécia) apoiaram a
proposta da Comissão. Os restantes seguiram a posição da Alemanha, mantendo-se
imutáveis na defesa da política de austeridade.
Aquela decisão não é certamente explicável
por falta de um fundamento rigoroso para a necessidade de um estímulo fiscal
capaz de dinamizar a procura interna real na área do euro, a qual ainda é
inferior à registada no início de 2008.
De facto, multiplicam-se análises muito
críticas sobre a austeridade bem como recomendações de especialistas e de
organizações internacionais para que se opte por políticas claramente
expansionistas por parte de alguns países europeus.
Um artigo que ontem Martin Wolf publicou no Financial
Times (More perils lie in wait for the
eurozone- Divergence in the performance of members of the single currency is a
real challenge) refere que a fraqueza da procura interna actua no sentido
de manter demasiado baixas as taxas de inflação e, no tocante a alguns países
do sul, constata desde 2007 a magnitude da perda de PIB real percapita, em
paridade do poder de compra, sendo a evolução de sinal contrário na Alemanha.
E afirma:
“A dolorosa verdade é que a área do euro não só sofreu um pobre desempenho,
como também provou ser uma máquina geradora de divergência económica entre os
seus membros em vez de gerar convergência”.
A dependência excessiva de grandes excedentes
externos é, no seu entender, o resultado de um processo de ajustamento mal
conduzido.
São estes os motivos que levam Martin Wolf a denunciar
que a área do euro se encontra à beira de um desastre, e, embora admita ser
ainda possível evitá-lo, alerta para que
as interações entre os acontecimentos económicos e financeiros e os fenómenos
de stress político, são imprevisíveis e perigosas.
Para tal, advoga o abandono de políticas de
austeridade, na mesma linha do recente relatório (Economic Outlook) da OCDE, substituindo-as
por uma combinação de estímulo fiscal para o crescimento com importantes
reformas estruturais.
Parece-nos bem significativo da consciência
da necessidade urgente de mudança que a OCDE não se tenha limitado a vagas
recomendações e tenha identificado claramente os grupos de países que deveriam
adoptar uma política expansionista, naturalmente com intensidade variável, mas
com destaque para a Alemanha e os Países Baixos.
Qual a probabilidade de que tal venha a
acontecer? Até quando vingará a ideia, sobretudo alemã, de que o endividamento público,
independentemente do seu custo, é um pecado?
O que lemos e ouvimos dizer é que temos que
esperar pelas eleições na Alemanha, previstas para o próximo ano.
Até lá, que mais pode suceder, com que
custos, com que responsáveis?
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