Não é o único – nem sequer o primeiro - a defender a proposta de uma “New Deal” para a União europeia e, em especial, para a Zona euro, como via para enfrentar a estagnação económica no continente europeu e o endividamento excessivo de alguns países, mas Thomas Piketty tem indiscutível prestígio académico para o fazer, designadamente depois da sua obra sobre o capitalismo do século XXI.
Por outro lado, há que reconhecer que, politicamente, não alinha por algum partido de extrema-esquerda ou de extrema-direita e, por isso, a sua proposta não corre o risco de ser recebida com excesso de desconfiança por contaminação ideológica.
Vale a pena sublinhar o seu ponto de partida: a necessidade do reconhecimento objectivo do fracasso das políticas europeias, em particular das instituições da eurozona, para fazer face à crise de 2008, designadamente as políticas ditas de austeridade impostas aos países com défices estruturais das respectivas economias e contas públicas as quais estão na génese da estagnação económica, do elevado desemprego, do empobrecimento de largos estratos populacionais e, não raro, do agravamento das próprias fragilidades que se pretendia corrigir com tais medidas.
Sem um reconhecimento do seu fracasso objectivo, corre-se o risco de falta de vontade política para encetar caminhos diferentes e inovadores. É, aliás, o que, diariamente, estamos a constatar em Portugal onde, apesar de serem notórias as disfuncionalidades geradas pelas políticas de austeridade dos últimos anos, alguns deputados mostram-se mais disponíveis para justificar as medidas do passado, revelando grande miopia e cegueira em reconhecer as consequências desastrosas das mesmas mas não dão sinais de empenhamento em procurar alternativas em torno de um conjunto de objectivos consensualizados em torno de um desenvolvimento humano sustentável e com coesão social .
Thomas Piketty adverte para os riscos do recrudescimento de forças políticas de extrema-direita facilmente ancoradas no descontentamento dos cidadãos gerado pelo desemprego, a precariedade, a desigualdade crescente e a pobreza e defende um novo Pacto para a Eurozona assente no crescimento económico, na inovação e no emprego, na reestruturação das dívidas soberanas, através da sua mutualização garantida por um fundo europeu comum, num parlamento para a Zona euro com a representação de deputados de todos os estados que a integram. A este último caberia definir um imposto comum destinado a financiar investimentos em infra-estruturas e investigação nos países membros bem como definir e avaliar outras políticas comuns.
Convido os leitores/as a ler o artigo na íntegra. A versão em inglês encontra-se.aqui
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.