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21 janeiro 2016

Reescrever as regras da economia

Enquanto em Davos se reúnem, nestes dias, os poderosos do mundo e, entre si, discutem as perspectivas para o futuro da economia mundial e demais problemáticas com ela relacionadas, a comunicação social divulga as conclusões do Relatório anual da Oxfam acerca da desigual repartição da riqueza à escala mundial.

Os dados apresentados dão conta da magnitude de uma das maiores disfuncionalidades do sistema económico e sócio-político vigente. Refiro-me à gigantesca e galopante concentração da riqueza à escala mundial, reflexo, aliás, do que também se passa no interior de muitos países.

Quando em 2010 se revelou que, em todo o mundo, 388 famílias dispunham de rendimento equivalente aquele que era possuído por metade da população mundial, admitia-se que a situação, sendo tão clamorosa e com efeitos tão perniciosos para o crescimento económico e para a coesão social, havia de ser corrigida por urgentes medidas de política adequadas e que estas seriam definidas e postas em prática atempadamente.

Decoridos 5 anos, os indicadores revelam que não 388 mas apenas 62 famílias possuem rendimento equivalente ao rendimento de metade de toda a população mundial, o que mostra quanto tem vindo a crescer, a concentração da riqueza.
 
Nem a crise e as medidas austeritárias, que foram implementadas para lhe fazer face, travaram esta tendência para o agravamento da desigualdade, uma vez que as perdas sofridas pelos estratos mais pobres foram, proporcionalmente, muito mais severas do que as verificadas nos estratos mais afluentes. A Oxfam estima que a riqueza dos 50% mais pobres terá caído 41% entre 2010 e 2015, enquanto a riqueza dos 62 mais ricos aumentou mais de 500 mil milhões de dólares.

Do mesmo relatório constam muitos outros indicadores que vale a pena ter presente e que sustentam a tese de que se tem verificado um aumento exponencial da desigualdade, nomeadamente no que se refere à concentração da riqueza, a par de maior incidência de pobreza.

É hoje consensual a ideia de que as desigualdades do rendimento e da riqueza extremas são gravosas para a economia, a sociedade, a política e a paz e a conclusão a tirar é a de que importa ir além do menu das políticas correntes de redistribuição do rendimento (política fiscal e transferências) como proposta de correcção das desigualdades, uma vez que tais políticas se têm revelado tão pouco eficazes. Como nos recorda Stiglitz e outros no seu relatório Rewriting the rules, a situação é de tal modo dramática que se torna indispensável re-escrever as regras. A concentração da riqueza tem de prevenir-se e combater-se na formação do rendimento e não apenas na sua redistribuição.

Mas aqui chegados, há que dar razão ao articulista de The Guardian no seu comentário ao relatório da Oxfam ao recordar as palavras do director do Equality Trust (Reino Unido): precisamos que os nossos políticos acordem para esta realidade e enfrentem com determinação esta perigosa concentração da riqueza e do poder nas mãos de uns poucos.
Ver aqui.

1 comentário:

  1. The increase in inequality between 2010 and 2015 reflects primarily two developments: the boom in equity markets, partly due to quantitative easing, and the boom in technology, with vast fortunes created in a very short time. A discussion point at Davos is how the technological boom may contribute to further inequality, as what is termed the Fourth Industrial Revolution further unfolds:
    http://www.weforum.org/agenda/2016/01/the-fourth-industrial-revolution-what-it-means-and-how-to-respond

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