O Relatório recentemente apresentado em Davos sobre o
Futuro do Trabalho defende que a quarta revolução industrial em curso, em
articulação com outros factores socioeconómicos e demográficos, está a levar a alterações
muito grandes na actividade económica. Estas alterações estão a provocar
roturas no mercado de trabalho, com o aparecimento de novas categorias de trabalhos,
destinadas a substituir parcial ou totalmente as categorias anteriores.
Apesar das adaptações que são apresentadas para enfrentar
este desafio, a previsão para o período 2015-2020, dos empregos criados (mais 2
milhões) e dos empregos destruídos (menos 7,1 milhões) é fortemente penalizador
para os segundos, o que resulta num enorme saldo negativo de 5,1 milhões.
Acresce que as vantagens associadas à tecnologia estão a
proporcionar mais riqueza, mas não há nenhuma lei económica que diga que todos
vão beneficiar proporcionalmente. Pelo contrário, está-se a assistir a uma
desmesurada concentração da riqueza e do rendimento.
É urgente, por isso, discutir sobre o que deve ser feito
para impedir estes previsíveis efeitos negativos. Mais do que a defesa de medidas
avulsas, há que regressar ao debate sobre um novo modelo para o emprego. A
construção deste novo modelo exige alterações institucionais e mudanças nas políticas,
designadamente de educação e de formação, do mercado de trabalho, dos salários,
da repartição da riqueza e dos rendimentos, da segurança social, etc..
Daí o regresso, provavelmente ainda com mais força nos
tempos próximos, a um debate a temas tão diversos como são a partilha do
trabalho, o rendimento mínimo universal, a flexibilidade do produto e do
trabalho e a flexisegurança, os créditos fiscais, a negociação
colectiva do trabalho.
Mais do que tentar defender modalidades de trabalho que
se arriscam a ser obsoletas, há que passar para novas formas de trabalhar,
capazes de contribuir para uma maior prosperidade, mas que não ponham em causa
a coesão social, nem a dignidade do trabalho e os direitos dos trabalhadores,
ainda que estes últimos tenham que ser sujeitos a formulações que contemplem mais
eficientemente a defesa de novos e velhos riscos.
Sim, a autora tem toda a razão em chamar a atenção para as consequências que a Quarta Revolução tecnológica seguramente terá para a concepção do trabalho, do estatuto do trabalhador e seus direitos, do emprego e desemprego, etc. Qualquer programa de política económica e social não pode deixar de ter presente estes novos desafios. Stiglitz e outros chamam a atenção para a necessidade de reescrever as regras do modelo económico, designadamente no que se refere à regulação do mercado. A meu ver, neste reescrever das regras merece lugar de destaque o próprio conceito de empresa e da sua responsabilidade social.
ResponderEliminarCom vista ao desenho do nosso futuro colectivo, haveria que ter a ousadia de promover amplos e aprofndados debates sobre estas questões de fundo.