O rescaldo das eleições
legislativas de 4 de Outubro absorve o essencial da nossa atenção nestes dias
de Outono. Se e como conseguirá o Partido Socialista estabelecer alianças com
vista a neutralizar o resultado eleitoral da coligação PSD*CDS, sendo que a
população se expressou muito significativamente contra a mesma, é a questão
fundamental. Viremos a assistir a uma aproximação efectiva, e quase inédita,
com os partidos mais à esquerda e, especialmente, com o PC*PEV? Ou será que o
optimismo relativo que tem transparecido destes encontros fará parte de uma
eventual táctica de pressão sobre a aliança de direita? Aguardemos pelos
próximos desenvolvimentos.
De uma forma ou outra, o certo é
que estamos a assistir à (re)emergência da política, como já tem sido reconhecido
pelos comentadores “encartados”. E este aspecto constitui em si mesmo uma
viragem significativa, num contexto extremamente marcado pela crescente
despolitização do social sob o economicismo neoliberal. Em nome do controlo do
défice público e da contenção de custos, da eficiência indispensável à
competitividade, do respeito pelas regras e standards
ditados pela União Europeia e, acima desta, pela globalização, tudo passou
a funcionar em ambiente politicamente desnatado.
Para a inculcação de princípios novos
e assépticos, como por exemplo o do primado do individualismo sobre a
desigualdade entre grupos, do eficiente sobre o equitativo, do da
empregabilidade sobre o do valor cidadão da educação ou, ainda, do da
inevitabilidade económica contra a defesa do bem público, muito tem contribuído
a maioria da comunicação social com a sua informação tendenciosa e retórica
repetitiva. Como refere
Franklin (2004),
The result is that these rhetorical media acts to a large extent to
produce the very thing they claim to describe- politics via packaging rather than
sustained debate.[1]
Pois parece que aquele debate
começa a reunir condições para reaparecer, animado desde logo pelas novas
formas de expressão e intervenção dos cidadãos empenhados em criar canais
alternativos de participação democrática, em complemento e reforço da
democracia representativa. Mas também pela manifestação da possibilidade, se
não mesmo exigência, de formas renovadas de exercício do poder central, ao
arrepio dos pseudo consensos, politicamente neutralizados, em torno dos
partidos “do arco da governação”.
Constituirá isto um indicador do
que Hanna Arendt designava “a new beggining”, ou “a man’s faculty to begin
something new”[2] na
constituição de novas formas de governo ou, melhor ainda, de novos sistemas de
poder?
[1] Franklin, B. (2004).
Packaging politics: Political communications in Britain´s media democracy,
London: Arnold, citado por Clarke, M. (2012). The (absent) politics of
neo-liberal education policy. In Critical
Studies in Education, vol. 53, nº 3.
[2] Arendt, H. (1973). On Revolution. Londres: Penguin Press.
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