10 setembro 2015

Afinal para onde vamos?

Anunciado como o debate televisivo mais relevante entre os líderes das duas principais listas concorrentes ao próximo acto eleitoral, era de supor que o mesmo se debruçasse sobre as opções relativamente aos caminhos propostos para o futuro do nosso País e das suas gentes. Mas não foi o que de facto sucedeu. Boa parte do tempo foi ocupada com leituras e releituras do passado, e, ainda assim, ficando pelas aparências de situações pontuais e sem o devido questionamento sobre as respectivas causas.
 
Nem os entrevistadores souberam trazer para o debate a crítica do modelo económico, social e político subjacente à governação de Paços Coelho, nem o seu opositor o quis fazer e, muito menos, explicitar a visão do seu partido acerca da necessidade de um modelo alternativo ao ordoliberalismo reinante, deixando o eleitor/a na ignorância de questões-chave como sejam o que pensam acerca do papel do Estado na economia, designadamente no seu planeamento e regulação, o âmbito que propõem para os serviços públicos e para as privatizações em curso, o lugar reservado à economia social e solidária, a qualificação da Administração pública e os riscos do outsourcing, a preservação do estado social, a centralidade da concertação social como factor de coesão social e de sustentabilidade ambiental, entre outras.
 
Ausente do debate esteve também uma indispensável visão prospectiva acerca do que virá a acontecer no Mundo nos próximos anos por efeito de profundas inovações tecnológicas em curso, de novas estratégias geopolíticas, dos expectáveis fluxos migratórios, da baixa natalidade, das alterações climáticas, da corrida ao amamento e das ameaças bélicas. Seria desejável que tivesse sido abordado como irá evoluir a União europeia e as suas instituições face às disfuncionalidades actuais, com destaque para a desigualdade crescente na repartição da riqueza e nas oportunidades de desenvolvimento dos diferentes territórios e países, o que se perfila de consequências do projectado TTIP. 

Incompreensível é, igualmente, o silêncio que recaiu sobre matérias relevantes para a qualidade de vida das pessoas e o bem-estar colectivo, designadamente: a educação das novas gerações, a qualificação da população adulta para uma cidadania participativa e responsável, a investigação científica e a economia do conhecimento, a ameaça de desertificação do território, a acessibilidade à justiça, o combate à corrupção, a segurança dos cidadãos, a urgente erradicação da pobreza, … Da segurança social e da saúde, dois outros temas da maior importância, falou-se, mas superficialmente, mais para exibir sucessos passados do que apontar os rumos futuros.
 
Em minha opinião, os mais de 3 milhões de espectadores que assistiram ao debate não podem ter ficado esclarecidos com o que ouviram e por isso interrogam-se e exigem novos debates. Querem resposta a esta pergunta: Afinal para onde vamos?

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