03 julho 2015

O que fazer com este país

Este é um título de um livro da autoria do Prof. Ricardo Paes Mamede que, numa sala grande, a abarrotar de gente, com muito mais pessoas de pé do que sentadas, foi ontem lançado, em Lisboa. Trata-se de uma verdadeira pedra no charco da nossa lamechice, pela forma como desenvolve o tema e pelo rigor como fundamenta o seu raciocínio.
No tempo que vivemos, face à gravidade das situações com que nos confrontamos no dia-a-dia das nossas vidas e da vida dos nossos concidadãos, bem precisávamos deste apoio, à nossa reflexão e ao desenvolvimento da nossa esperança.
Felizmente que, nos últimos meses, se têm multiplicado as publicações que, de reforma rigorosa, abordam a várias das problemáticas sobre as quais nos temos debruçado no Areia dos Dias. Ainda ontem a Manuel Silva chamou a atenção para um deles, sobre a pobreza, a repartição dos rendimentos e os seus fundamentos (ver aqui).
Curiosamente, o livro, que se interroga sobre o que fazer com este país, vai buscar a justificação para “o que fazer” não apenas às debilidades estruturais da nossa economia e dos nossos comportamentos mas, também, às perversões que têm caracterizado as decisões europeias que, mesmo que não existissem outras razões, não poderiam senão conduzir aos resultados que conhecemos.
A propósito de um triste episódio protagonizado por um ator importante da vida política portuguesa, há alguns dias já aqui, sobre a forma de interrogação, tinham sido deixados alertas sobre as grilhetas que a administração europeia tem vindo a lançar sobre alguns dos seus países e, indiretamente, sobre o projeto europeu, como um todo.
A desesperança não é o traço que mais caracteriza este trabalho de Ricardo Paes Mamede. Reconhecendo as dificuldades do momento ele afirma que elas não podem deixar de ser superadas. Daí o subtítulo do livro: “Do pessimismo da razão ao otimismo da vontade”. As duas partes em que o livro está dividido são um apelo à recusa da inação: “O que fizeram deste país” e “O que faremos com este país”.
A conclusão, apesar das dificuldades para que fomos empurrados, não poderia deixar de ter como pano de fundo o propósito de que “o futuro se encontra nas nossas mãos”. A mudança de rumo exige lucidez e perseverança, tanto ao nível da análise e das políticas económicas, como dos pressupostos políticos que as suportam.
De leitura imprescindível!

1 comentário:

  1. Obrigada, Manuel, por esta chamada de atenção para o livro de Paes Mamede que acabo de ler.Fazia falta uma análise serena e muito realista dos caminhos possíveis para o futuro de Portugal.
    De facto, a exigência quanto ao futuro governo é enorme e bom seria que o tempo pré- eleitoral fosse aproveitado para um debate corajoso acerca do " triângulo das impossibilidades" referidas pelo Autor.

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