No que diz
respeito às pensões:
- A Grécia propôs, inicialmente,
que a idade da reforma passasse a ser aos 67 anos, a partir de 2036; depois de
aproximações sucessivas, hoje, as instituições propõem como data 2022 e a
Grécia 2025;
- Quanto aos suplementos de
reforma, as instituições pretendiam que terminassem em 2017; posteriormente
vieram a aceitar que fosse 2019 e a Grécia contrapropôs 2020.
Do lado das receitas:
- Os gregos pretendem aumentar as
contribuições das empresas para a Segurança Social; as instituições não querem
ouvir falar do assunto (em Portugal, recordamo-nos bem do episódio da redução
destas contribuições, com o argumento da promoção da competitividade);
- As instituições previam o aumento
da taxa do IVA para a taxa máxima para a quase totalidade das transações; a
Grécia pretendia, pelo contrário, aumentar o número de transações de bens e
serviços sujeitos à taxa mínima e intermédia; hoje, existe consenso para que os
produtos farmacêuticos, os livros e o teatro fiquem sujeitos à taxa de 6% e que
os alimentos de consumo básico tenham uma taxa de 13%; as instituições, também,
recusam a manutenção do IVA a 13%, na restauração e na hotelaria.
No que
concerne a outros impostos a Grécia pretende adotar um imposto extraordinário
de 12% sobre os lucros das empresas superiores a 500 mil euros; as instituições
recusam; assim como recusam uma subida do IRC para 29%, embora aceitem uma de
28%! Em vez do aumento dos impostos as instituições insistem na alternativa da
redução das despesas.
Conhecemos
bem a lengalenga. Mas vale a pena perguntar, é por causa das divergências acima
explicitadas que não vai haver acordo? Não, não vai ser por causa das
divergências, mas vai ser com elas que se vai continuar a argumentar. Temos
visto as instituições, com o seu poder de credores, dizerem que, agora, é à
Grécia que compete aproximar-se das posições dos credores. Pergunto eu, e
porque não o inverso? Porque uns são credores e os outros mal comportados?
Não pode
haver dúvida de que a verdadeira razão do dissenso é de natureza ideológica. O
neoliberalismo que, hoje, move a grande maioria dos estados e dirigentes
europeus não aceita que os ajustamentos eficazes possam se efetuados adotando
medidas com impacto sobre a oferta e as receitas; apenas aceitam choques pelo
lado da despesa. Fora deste fundamento ideológico, não existe qualquer
sustentação para dizer que a via defendida pelas instituições possa ser mais
eficaz do que a defendida pelo governo grego. Para além disso, como foi
referido inicialmente, a ideologia também exige que os gregos não saiam de
Bruxelas sem uma valente humilhação.
Veremos o que
vai sair da cartola, mas não é certamente, com humilhação de ministros, primeiros-ministros
e governo grego que se poderá aspirar a construir uma Europa mais robusta,
coesa e solidária.
PS: Já depois de escrito o texto acima
tomamos conhecimento de que o governo grego decidiu consultar o povo grego
sobre se aceita ou não as imposições vindas de Bruxelas. Recordámo-nos que os
media e muitos dirigentes europeus continuam argumentando que o Syriza ganhou
as eleições prometendo o que não podia cumprir, ou só podia utilizando os
recursos dos outros parceiros europeus
Apetece perguntar, se o resultado da
consulta vier a ser o “não” às imposições de Bruxelas, continuarão os srs. Wolfgang Schaeuble e Jeoren Dijsselbloem
a dizer que o Syriza prossegue o seu propósito de, com as suas propostas, enganar
o povo grego?
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