Este é o
fim-de-semana de todos os fins-de-semana. Todos estamos a fazer figas para que
as coisas “corram bem”.
Correr bem é,
para uns esperar que os gregos levem uma valente sova e se venham ajoelhar de
corda ao pescoço, junto dos chamados “credores”, admitindo as suas culpas e
jurando nunca mais vir a cometer as afrontas que durante tanto tempo ousaram fazer
contra quem tem o dinheiro e, por isso, manda.
Para outros,
correr bem é ver reconhecido pelas “instituições” (pelos donos do dinheiro) que
o governo do Syriza tem legitimidade para representar o povo grego junto das
instâncias internacionais e, dentro dessa legitimidade, tem capacidade para
escolher o caminho que há-de levar a Grécia a ultrapassar os complexos
problemas com que se debate (que não são apenas os da dívida pública), ainda
que para isso tenha que respeitar regras legítimas do funcionamento das
instituições financeiras internacionais.
Neste
corre-corre, no fim, não vão todos ficar igualmente satisfeitos. Como que nos
vamos encontrar em algum bailarico dos santos populares, ou na deposição de
velas em algum dos seus altares, esperando que as trombetas toquem e anunciem o
pregão. Depois, uns continuarão a festa e outros regressarão a casa maldizendo
os deuses.
O corre-corre
só tem como justificação a consciência de que “esta coisa” da Grécia tem a ver
com nós todos e poderá vir a ter consequências sobre as nossas carteiras, mesmo
que não saibamos, exatamente, o que é que se passa.
Haverá razão
para não sabermos o que é que se passa? Há!
A razão
imediata é a de que a matéria em discussão tem alguma complexidade e, sem o
apoio de médiuns, só os especialistas
poderão aspirar a ter alguma compreensão do que está em causa. Os que o não são
deveriam poder socorrer-se do oráculo dos médiuns,
mas o que acontece é que estes andam muito falsificados e deixaram de cumprir o
que deles era de esperar. Nas sociedades modernas este esclarecimento deveria
ser, em grande medida, cumprido pelos meios de comunicação social, mas não é
isso o que vemos acontecer. Os seus agentes comportam-se como crianças que ao
receberem prendas ficam entretidas com os desenhos do papel de embrulho e
deixam de lado o conteúdo principal da prenda.
Sobre o
assunto escrevem jornalistas, pronunciam-se opinion-makers,
discorrem comentadores e chega-se ao fim e dizemos: mas afinal onde é que estes
senhores querem chegar? As explicações não explicam coisa nenhuma e chega-se ao
fim tão esclarecido como se estava no início, ou até menos.
Para esta
falta de capacidade de explicação só há duas razões possíveis: a ignorância ou
a existência de uma agenda de interesses, política, ou ideológica, que tem
exatamente isso como propósito. Nalguns casos as duas razões também podem andar
de mão dada. E, afinal, não é impossível mostrar que as coisas, retiradas das
suas roupagens opacas, são afinal suscetíveis de ser mostradas transparentes e compreendias
por todos nós.
Vejamos o
contexto. Antes da chegada do Syriza ao poder o relacionamento das autoridades
gregas com as instâncias internacionais degradou-se de tal forma que se veio a aceitar
que os ministros gregos pudessem receber instruções emitidas pelos funcionários
da troica, por simples mensagem de correio eletrónico. Em boa hora o governo do
Syriza entendeu recusar-se a aceitar estes procedimentos e exigiu que o
relacionamento fosse colocado ao nível dos mais altos representantes das
instituições: outros governos, ministros, presidentes, etc. E esta sua exigência
foi adotada como modo de relacionamento normal. A partir de agora, o que quer
que venha a acontecer, já não voltará a ser como dantes.
E vamos aos
factos, como soí dizer-se. A situação encontra-se submetida à maior
dramatização. Os gestores de emoções criam ambientes em que tanto parece que se
está na presença de um acordo imediato como, poucas horas depois se declara que
tudo se esfumou.
Tanto as
instituições, como o governo grego, parece terem já consensualizado que é
objetivo comum a redução do deficit público. Onde divergem é no modo de o
conseguir. Os gregos entendem que, enquanto Estado soberano, possuem
legitimidade para determinar o caminho para lá chegar; as instituições
consideram que aquele objetivo só pode ser prosseguido, com sustentabilidade,
se o caminho trilhado for o da austeridade.
Ao longo dos
últimos meses penosas negociações têm vindo a ser realizadas, com resultados
que aproximam as posições de ambas as partes. Inicialmente, as instituições as
instituições entendiam que a única estratégia admissível era a da redução da
despesa, por via da diminuição dos salários e das pensões. Os gregos
privilegiavam uma estratégia de aumento da receita, por via do aumento dos
impostos e da promoção do investimento, argumentado que a via austeritária
(redução da despesa) já tinha provado não poder conduzir à obtenção dos
resultados desejados.
E agora onde
estamos? No post abaixo farei o ponto
da situação.
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