26 fevereiro 2015

Porque estão “todos” contra a Grécia?

Já se previa que as negociações do actual governo grego com a União Europeia iam ser difíceis. Estas dificuldades são múltiplas e ultrapassam o mero desejo de acautelar o retorno dos empréstimos concedidos. Sem entrar nas várias razões explicativas da “má vontade” contra a Grécia, é preciso dizer que um dos grandes obstáculos à obtenção de uma solução aceite pela generalidade dos Estados Membros é a ilusão da ortodoxia mainstream sobre os remédios a adoptar na Zona Euro e, mais particularmente, nos países do ajustamento.

Acredita-se geralmente que a crise financeira global de 2008 libertou forças que têm impedido o regresso a um crescimento aceitável no conjunto da Zona Euro e que são necessárias reformas, ou antes reformas estruturais do lado da oferta, para acabar com a estagnação.Daí a defesa:
•    Das virtudes da austeridade como passo necessário para a retoma do crescimento;
•    Da necessidade de reformas estruturais, entenda-se cortes nos salários e pensões e desregulamentação do mercado de trabalho, para melhorar a competitividade;
•    Da crença na edificação de um modelo puxado pelas exportações, ao mesmo tempo que a austeridade comprime a procura interna (Ver artigo de João Cravinho no Público de 24 de Fevereiro)

Estas soluções são as adoptadas, sem que até agora se tenham obtido grandes resultados, para não falar dos gravíssimos problemas sociais que lhes estão associados, sendo-nos prometido que virão a dar resultados no futuro, nem que para tanto tenhamos que viver em austeridade até 2020!

Acontece que há países fora da Zona Euro, que conheceram também o impacto da crise financeira e que seguiram receitas diferentes, com resultados bem melhores, como são os casos dos EUA e do Reino Unido.

Sendo assim, podemos perguntar:
•    Até onde é preciso deixar cair os salários e as pensões?
•    Qual o tempo a aguardar para a situação social se tornar insustentável?
•    Até onde poderá ir a degradação da Zona Euro?

Não será que o acalentar das ilusões que têm presidido à realização das actuais políticas europeias nos está a conduzir a uma situação sem retorno? Porquê continuar a adiar a procura de soluções verdadeiramente sustentáveis? Será que algumas das propostas da Grécia não vão no sentido certo?

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