Desde há muito existe a consciência de que a ciência económica, se quiser evoluir para ser um instrumento mais eficaz de desenvolvimento e progresso social, terá que ultrapassar conceitos demasiado simplificadores da realidade.
Com efeito, são bem conhecidas as limitações de sofisticados modelos matemáticos que se têm revelado desajustados da complexa realidade e, em consequência, de limitada idoneidade para servirem de base à definição de políticas.
Acresce que a noção de que o comportamento humano é necessariamente racional e egoísta é um ponto de partida do pensamento económico, que só por comodidade se adopta, mas que, obviamente, carece de análise complementar.
O Banco Mundial, no seu Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2015, intitulado “Mind, Society and Behavior”, dá grande destaque à compreensão do comportamento humano, pois a forma como as pessoas pensam deveria determinar as opções por melhores e mais eficazes políticas .
O processo de decisão humana, segundo os autores, constroi-se sobretudo pelo que designam por ”pensamento automático”, mas também por “pensamento social” .
Para além disso, a forma como as pessoas pensam é influenciada por modelos mentais, dos quais nem sempre há total consciência, mas que podem levá-las a cometer erros, num processo de pensamento automático, de que só mais tarde dão conta. Assim, por exemplo, uma sociedade dominada pela corrupção e pelo nepotismo é facilitadora de formas de pensar individuais com as mesmas caracteristicas, podendo, em casos extremos, ser perigoso fugir a elas.
A intenção do BM é inspirar e orientar os investigadores e agentes no terreno para que aprofundem o seu conhecimento sobre os mecanismos do pensamento humano e assim adequem à realidade as políticas nos diversos domínios, por exemplo, as que têm como objectivo aumentar a produtividade, proteger a saúde, cuidar das crianças, combater a pobreza ou enfrentar as alterações climáticas.
O que julgamos importante salvaguardar é que o maior conhecimento do papel das preferências psicológicas e sociais que influenciam as escolhas individuais, permita orientá-las – sem ferir a liberdade de cada pessoa - para objectivos de bem comum.
Se o contributo desta linha de investigação, no âmbito do Banco Mundial, pode ser muito valioso para os que têm a responsabilidade de promover o desenvolvimento, é crucial que se evite a sua apropriação por fins meramente mercantis ou oportunistas .
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.