29 outubro 2014

Terra. Tecto. Trabalho

Ontem, 28 de Outubro, o Papa Francisco, ao receber os participantes no Encontro Mundial dos Movimentos Populares, organizado pelo Conselho Pontifício da Justiça e da Paz, centrou o seu discurso nas três palavras do título deste post: terra, tecto, trabalho. Na parte final, falou também de ecologia e paz.
Vamos aqui apenas dar eco a estas palavras de Francisco, pelo que, sem comentários, citamos seguidamente algumas frases.
- …Terra, tecto e trabalho. É estranho, mas quando falo disto, para alguns o Papa é comunista. Não se entende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, tecto e trabalho, isso por que vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir isso não é nada estranho, é a doutrina social da Igreja.
 Terra. No início da criação, Deus criou o homem, guarda da sua obra, encarregando-o de cultivá-la e protegê-la. Vejo aqui dezenas de camponeses e camponesas e quero felicitá-los por serem guardas da terra, por a cultivarem e por fazê-lo em comunidade…O açambarcar de terras, a desflorestação, o apropriar-se da água, os agrotóxicos inadequados, são alguns dos males que arrancam o homem da sua terra natal…
A outra dimensão do processo, agora já global, é a fome. Quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como qualquer mercadoria, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Além disso, deitam-se fora toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável. Sei que alguns de vós reclamam uma reforma agrária para solucionar alguns destes problemas, e deixem-me dizer-vos que em certos países, e aqui cito o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, “a reforma agrária é, além de uma necessidade política, uma obrigação moral” (CDSI, 300)…Por favor, continuem a luta pela dignidade da família rural, pela água, pela vida e para que todos possam beneficiar dos frutos da terra.
Segundo. Tecto. Disse-o e repito-o: uma casa para cada família…Hoje há tantas famílias sem casa ou porque nunca a tiveram ou porque a perderam por vários motivos. Família e casa não se entendem uma sem a outra (van de la mano). Mas também um tecto, para ser um lar, tem uma dimensão comunitária: e é bairro…e é precisamente no bairro que se começa a construir essa grande família da humanidade, desde o mais imediato, a convivência com os vizinhos. Hoje vivemos em imensas cidades que se mostram modernas, orgulhosas e até vaidosas. Cidades que oferecem inúmeros prazeres e bem-estar para uma minoria feliz… mas nega-se o tecto a milhares de habitantes e irmãos nossos, incluindo crianças, e chama-se-lhes, elegantemente, “pessoas em situação de rua”. É curioso como no mundo das injustiças, abundam os eufemismos…
Terceiro. Trabalho. Não existe pior pobreza material - e devo sublinhá-lo -, não existe pior pobreza material que aquela que não permite a alguém ganhar o seu pão e o priva da dignidade do trabalho. O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais não são inevitáveis, são o resultado de uma prévia opção social, de um sistema económico que põe os lucros acima do homem, se o lucro ou benefício é económico, sobre a humanidade ou sobre o homem, isso são efeitos de uma cultura do descarte que considera o ser humano em si mesmo como um bem de consumo, que se pode usar e depois atirar fora.
Hoje, ao fenómeno da exploração e opressão junta-se uma nova dimensão, um matiz gráfico e duro da injustiça social; os que não se podem integrar, os excluídos são lixo, “sobrantes”. Esta é a cultura do descarte e sobre isto gostaria de ampliar algo que não escrevi mas que me ocorre recordá-lo agora. Isto acontece quando no centro de um sistema económico está o deus dinheiro e não o homem, a pessoa humana…
Falamos de terra, de trabalho, de tecto… Falamos de trabalhar pela paz e cuidar da natureza… Mas porque é que em vez disso acostumamo-nos a ver como se destrói o trabalho digno, se desalojam tantas famílias, se expulsam tantos camponeses, se faz a guerra e se abusa da natureza? Porque neste sistema tirou-se o homem, a pessoa humana, do centro e substituiu-se por outra coisa. Porque se presta um culto idolátrico ao dinheiro. Porque se globalizou a indiferença!, globalizou-se a indiferença: que me interessa o que se passa com os outros desde que entretanto defenda o que é meu?...
Cláudio Teixeira

2 comentários:

  1. Após a revolução portuguesa do 25 de Abril em Portugal o povo gritava nas ruas:
    - Paz, Pão e Liberdade.

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    1. e lembro-me também de Judite Cortesão ter escrito uma cartilha, que se destinaria a apoiar a alfabetização, cujo título era semelhante

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