Por ocasião da comemoração do Dia
Internacional da Erradicação da Pobreza (17 de outubro), o INE apresentou os resultados
definitivos do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2013,
incidindo sobre os rendimentos familiares de 2012.
Os indicadores “oficiais” apontam
inequivocamente para um acentuar do nível de pobreza, registando em 2012 uma
taxa de pobreza de 18.7%, a taxa mais elevada desde 2004. A intensidade da
pobreza, uma medida de quanto pobre são os pobres, atinge o valor mais elevado
desde o início da presente série baseada no Inquérito às Condições de Vida e
Rendimento (ICOR- EU SILC).
Mas estes números subestimam
claramente o agravamento do nível de pobreza efectiva registada em Portugal. A
queda dos rendimentos familiares levou a uma redução da linha de pobreza que
era em 2009 de 434 euros/mês e que em 2012 recuou para cerca de 408 euros/mês.
A consequência desta queda da taxa de pobreza é a de que muitos pobres deixaram
de ser considerados estatisticamente pobres apesar da sua situação não ter
melhorado ou mesmo, em alguns casos, se ter agravado.
Se mantivéssemos o valor real da
linha de pobreza de 2009 a evolução da incidência da pobreza seria diferente
como se mostra no gráfico seguinte:
A “neutralização” do efeito da queda de rendimentos sobre os indicadores de pobreza permite-nos ter uma percepção diferente, certamente mais próxima da realidade, da dimensão da pobreza em Portugal: a taxa de pobreza sobe de 17.9% em 2009 para 24.7% em 2012.
A publicação do INE chama ainda a
atenção para uma das vertentes mais preocupantes dos indicadores de pobreza: O
forte agravamento da pobreza a que estão sujeitos as crianças e os jovens. A
taxa de pobreza das crianças e jovens atinge os 24.4% e a sua intensidade da
pobreza ultrapassa os 33%. Isto com as estatísticas oficiais. Também aqui, se
corrigirmos o efeito da diminuição do limiar de pobreza os resultados são
tragicamente mais elucidativos: a proporção de crianças e jovens vivendo em
famílias pobres é de 30.9%.
Para quem insiste em negar o
processo de empobrecimento que a sociedade portuguesa enfrentou nos últimos
anos os números aí estão. Mas, como sempre, os piores cegos são os que não
querem ver.
Carlos Farinha Rodrigues
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