Em antecipação ao comunicado do Banco de Portugal, ouvimos
comentadores a preparar a opinião pública para o essencial do que estava já
definido como solução para o grave
problema criado pelo Grupo Espírito Santo: as consequências dos erros e das
ilegalidades ficavam com os responsáveis pela anterior gestão do BES,
salvaguardados iriam ficar os direitos dos depositantes do banco, bem como a
saúde do sistema financeiro nacional. E tudo sem custos para os contribuintes,
disseram eles.
É provável que as opções possíveis não
abundassem, mas como aceitar o tempo que decorreu entre os primeiros sintomas
da doença e a intervenção das entidades reguladoras, o que permitiu à gestão
privada concretizar operações financeiras ilícitas, muito gravosas para o banco
e para a imagem do sistema financeiro português?
Parecendo que, com a solução adoptada, o
objectivo de dar aos depositantes as garantias de segurança necessárias terá
sido atingido, subsiste um elevado grau de incerteza em aspectos essenciais,
desde a qualidade dos activos que ficarão no Novo Banco, o impacto de
previsíveis acções legais, a questão do reembolso dos fundos públicos
emprestados ao Fundo de Resolução para capitalizar o banco, o grau de
probabilidade de uma reprivatização bem sucedida ( a operação em curso tem sido
assimilada por alguns analistas a uma “nacionalização temporária”), o que podem
ser as futuras orientações empresariais, nomeadamente em matéria laboral, etc.
A seguinte afirmação do Governador do Banco
de Portugal, justificando a dificuldade de intervir atempada e eficazmente como
regulador, deveria merecer toda a atenção:
“O
Grupo Espírito Santo, através das entidades não financeiras não sujeitas a
supervisão do Banco de Portugal, desenvolveu um esquema de financiamento
fraudulento entre as empresas do grupo. A experiência internacional evidencia
que esquemas deste tipo são muito difíceis de detetar antes de entrarem em
rutura, em especial quando a atividade é desenvolvida em várias jurisdições.”.
Quando o capital se move no espaço global,
sob a responsabilidade exclusiva dos seus detentores, aproveitando vantagens
fiscais e regulações permissivas, que outra coisa se pode esperar, sobretudo
quando se aposta na reputação de seriedade de um banqueiro?
Se uma desejável regulação financeira global
é difícil de alcançar no curto prazo, outras medidas poderiam ser, entretanto,
adoptadas, entre elas, por exemplo, a separação entre os bancos comerciais e os
de investimento, o combate aos paraísos fiscais, o desencorajamento de
actividades especulativas. Não serão já demasiados os prejuizos de adiar
medidas verdadeiramente eficazes para regular o sistema financeiro?
Mesmo o FT escreve num artigo sobre o Lloyd's Bank em 29/772014: "The banking sector is being reformed but more is needed...Given the drum-beat of scandal, perhaps the hardest task for banks is to restore their reputation for straight dealing and probity. But this can only come from the top. It cannot be imposed by rule books, legislation and compliance rules, and requires a new commitment to doing the right thing, even at the cost of revenues and rewards."
ResponderEliminarNecessita uma mudança no paradigma?