A Delegação de Lisboa do
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra realizou uma conferência
sobre “A Transformação das Relações
Laborais em Portugal e o “Memorando de Entendimento”, entre os dias 21 e 23
de Maio. Esta conferência constituiu um momento privilegiado para conhecer e
reflectir sobre as tendências actuais em matéria laboral no nosso país.
De facto, as mudanças que
se estão a fazer sentir são muito significativas, têm tido lugar num período de
tempo muito pequeno e estão a ser levadas a efeito, em grande parte, de forma
unilateral e autoritária. Daí a pergunta sobre se não estaremos em face de uma
nova configuração destas Relações, em particular no que se refere à Negociação
Colectiva de Trabalho, apontando para a erosão e desvalorização das mesmas.
Recorrendo à Comunicação
apresentada pela Professora Maria da Paz Campos Lima, “A erosão do sistema de relações laborais em Portugal no período de
intervenção da Troika: instituições, processos e estratégias de actores”, verifica-se
que as reformas da Troika, em Portugal, Grécia e Irlanda traduziram-se nas seguintes
mudanças:
·
Diminuição
da cobertura das convenções colectivas
·
Diminuição
da extensão das convenções colectivas
·
Reforma
do sistema de negociação colectiva na perspectiva da descentralização
·
Extensão
da possibilidade de derrogação de matérias em relação às convenções de nível
menos elevado
·
Remoção
ou limitação do “princípio mais favorável"
·
Possibilidade
de negociação de estruturas representativas ao nível da empresa (não sindicais)
sem mandato sindical
·
Redução
do período de validade e de sobrevigência das convenções colectivas
·
Redução
em geral do poder sindical na fixação dos salários e incremento da flexibilidade
salarial descendente
Se tivermos presente, entre outras, as disposições tomadas
quanto ao congelamento unilateral do salário mínimo, entre 2012 e 2014, os
cortes unilaterais dos salários e dos subsídios de férias e de natal no sector
público e as reduções das férias e feriados e da compensação das horas
extraordinárias no sector privado, podemo-nos perguntar sobre o que resta
afinal para negociar.
Acresce que estão em actualmente em curso, segundo a
comunicação que estamos a seguir, novos desenvolvimentos, nomeadamente os
relativos à recusa da publicação de convenções que reduziam os horários de
trabalho na administração local de 40 para 35 horas e a proposta que visa reduzir a
validade de cinco para dois
anos das cláusulas que determinam que a convenção só caduca
quando for substituída por outra e reduzir de 18 para 6 meses a sua
sobrevigência das convenções colectivas, bem como a suspensão das convenções colectivas nas empresas em crise por acordo
entre a comissão sindical ou inter-sindical.
É caso para nos interrogarmos sobre
o desmantelamento que está a ser efectuado no nosso sistema de relações
laborais, sem que se tenha assistido a uma verdadeira discussão, negociação e
tomada de compromissos pelos actores relevantes, o que lança as maiores
suspeitas sobre o modelo que se pretende edificar.
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