Ouvimos, ontem, na Fundação Calouste Gulbenkian, a descrição de algumas experiências sobre cuidados de saúde, centradas em certas patologias que muito interessam a países, como Portugal, com crescente envelhecimento da população, onde cada vez mais são prevalecentes as doenças crónicas.
Pode parecer, à primeira vista, que muitos dos princípios aplicados naquelas experiências não trazem, afinal, grande novidade...
Com efeito, já é conhecida, por exemplo, a grande vantagem de criar, a partir das comunidades, equipas multidisciplinares, com sólida formação e trabalhando em rede, motivadas para a obtenção de resultados; a possibilidade de melhorar a eficiência dos cuidados de saúde com a aplicação de ferramentas informáticas; a vantagem em envolver os doentes no processo de tratamento; a importância da literacia em saúde por parte das populações, etc.
O que é uma lição é ver como estes princípios foram efectivamente aplicados, com muita competência e persistência ao longo do tempo, e daí resultaram ganhos para a saúde, sem acréscimo de custos e mesmo com alguma poupança.
Sabemos que temos um longo caminho a percorrer para uma verdadeira reforma dos cuidados de saúde e que os cortes orçamentais que têm sido impostos não são enquadrados por uma estratégia global para este sector e estão a fazer surgir novos problemas, entre os quais uma fuga de profissionais, tão necessários ao SNS.
É também muito preocupante a lentidão com que se promove a adaptação dos cuidados primários de saúde às reais necessidades das populações, não dando continuidade a boas práticas já testadas entre nós.
Por que razão, apesar das já muito elevadas taxas moderadoras cobradas no atendimento das urgências hospitalares, aí acorre um número excessivo de pessoas (6 em cada dez, enquanto que no Reino Unido, por exemplo, essa procura é de 1,5 para 10)? Acresce que, segundo foi também referido ontem, 42% dos casos são comprovadamente não urgentes (“verdes” e “azuis” na triagem de Manchester).
Se atendermos a que os serviços de urgência dos nossos hospitais não são propriamente lugares agradáveis e isentos de risco, podemos concluir que não é por masoquismo que as pessoas lá vão.
O problema parece estar em graves lacunas na organização dos cuidados primários, os quais, perdido o impulso inicial para a sua reforma, tardam em vêr clarificado o seu futuro e assim os problemas não se resolvem, como deveria ser, ao nível das comunidades. E é a este nível que uma pequena alteração tem grandes consequências... mas os políticos centram-se muito na problemática dos hospitais, foi afirmado na Conferência.
A poucos mêses de finalizar a missão da Plataforma Gulbenkian para um Sistema de Saúde Sustentável, fica a esperança de que as suas recomendações possam ser decisivas para alcançar os objectivos genéricos que se propôs alcançar: melhor saúde, melhores cuidados de saúde, menores custos e desperdicios.
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