Deixou hoje de funcionar a Universidade de Atenas. Tal como três outras escolas de ensino superior gregas,deixou de reunir condições mínimas de funcionamento dados os despedimentos maciços de pessoal.
Em nome da austeridade e dos sucessivos resgates, o neoliberalismo consegue eliminar o pensamento crítico, aquele que estuda e propõe alternativas, o que não se acomoda. Está bem certa a pedagogia crítica quando insiste na necessidade de os cientistas sociais defensores das alternativas ao mainstream não desguarnecerem a vertente do combate ideológico (Apple, Au & Gandin 2009). De insistirem na desmontagem das armadilhas pseudo- científicas que nos impõem as correntes dominantes, de analisarem e desnudarem os erros técnicos de tantas das suas hipóteses, de promoverem um ensino verdadeiramente contra-hegemónico, nas palavras de Gramsci. É certo que, ao fazê-lo, e ao contribuir, honestamente, para travar a corrente de várias gerações de graduados pela cartilha neoliberal, se arriscam a perder o emprego, o espaço de trabalho, estudo e debate onde labutam diariamente, o sustento da família...
E, no entanto, elas, as ideias, movem-se. Habitualmente, com tanto mais eficácia quanto maior a repressão. Poucos livros nos deixaram uma mensagem tão presente como os que nos foram proibidos; e as arremetidas das polícias de choque só contribuem para soluções ainda mais engenhosas de associação e luta coletiva. Não se pode travar o óbvio.
Mas é bom ter presente que o ataque deste novo capitalismo se faz sentir em múltiplos domínios, quase sempre convergentes. Pensando em Portugal, lembramo-nos de imediato do grande corte orçamental que o Governo impôs às instituições de ensino superior, neste último Agosto. Do dramático arranque deste ano letivo, ainda mais marcado pelo economicismo da contenção. Em franco retrocesso face a conquistas de décadas, muitas crianças com necessidades educativas especiais ficam sem aulas e sem apoio enquanto os/as seus/suas educadores/as e professores/as se mantêm no desemprego...
E quanto a política científica, se é que tal termo se pode utilizar com propriedade entre nós... A que assistimos? A agência portuguesa para a ciência e tecnologia - a FCT, única instância pública com tal missão - alinha ela própria também pelo receituário neoliberal. Para além da incompetência generalizada, que leva o/a investigador/a a poder obter respostas distintas face a uma mesma questão se respondida por diferentes funcionários, o ideário e pressupostos não podiam ser mais pró mercantis. Basta estar a par das restrições crescentes no financiamento dos centros de investigação e nos concursos para bolsas. E, sobretudo, assistir à apresentação pública de programas, como o Ciência 2012, por exemplo: do elenco de "boas práticas" científicas então apresentadas, apenas uma envolvia as Ciências Sociais e as restantes caracterizavam-se essencialmente pelo consórcio com o grande negócio internacional com vista à produção de marketable goods... Sim, porque destas experiências é que resulta o financiamento próprio que ajuda à desresponsabilização dos dinheiros públicos, ao mesmo tempo que se tentam neutralizar as incómodas ciências da crítica e da alternativa.
Mas as ideias movem-se e reproduzem-se!
Margarida Chagas Lopes
* Apple, M. W., Au, W. & Gandin, L.A. (2009), The Routledge International Handbook of Critical Education. New York: Taylor & Francis.
Oh Margarida, é verdade que isto é mesmo assim? Não estarás a exagerar um pouquinho?
ResponderEliminarSe for verdade, isso quer dizer que as toupeiras estão minando quase todo o terreno, isto é, estão a destruir as raízes do edifício em que assenta o funcionamento da sociedade que com sacrifício vimos construindo desde 25 de Abril de 1974.
Nem quero acreditar!
Vê, por exemplo, o Público de ontem:
ResponderEliminarhttp://www.publico.pt/mundo/noticia/universidades-gregas-fecham-num-bracodeferro-com-o-governo-1607023...
Custa a acreditar, pois custa...