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17 maio 2013

A austeridade é um erro. Quem assume a mudança?


A austeridade não funcionou no passado, ao contrário do que alguns defendem, invocando para tal o exemplo de alguns países, na década de 80  (Austrália, Canadá, Dinamarca e Holanda), mas desconsiderando, na sua análise, as condições específicas em que, após medidas de corte nas despesas públicas - mas não por causa de elas -, se verificou um ressurgimento da economia.
 
É bem claro o que a este respeito escreve Mark Blyth em “The Austerity Delusion”, artigo publicado em Foreign Affairs, Maio/Junho de 2013: “Os cortes, só por si, não conduzem ao crescimento; eles apenas funcionam em pequenos estados que podem exportar para  grandes estados que estão em crescimento”.  

Da mesma forma que países que comercializam entre si não podem registar, em simultâneo, excedentes, também economias interligadas não podem, todas, desvalorizar ao mesmo tempo e esperar aumentar as suas exportações. 

Mesmo assim, a Europa não hesitou em impor a austeridade, argumentando que a “desvalorização interna” de salários conduziria a maior competividade, as despesas públicas sofreram cortes elevados e os resultados estão à vista, tanto em Portugal como nos outros países periféricos sujeitos à mesma receita: o peso da dívida em relação ao PIB não para de aumentar, o desemprego atingiu níveis insustentáveis, a instabilidade social alastra perigosamente. E como se generalizaram políticas de austeridade e as economias estão interligadas a zona euro, sem surpresa, entrou em recessão. 

Ou seja, a austeridade não funcionou no passado, também não funciona no presente, e é cada vez mais evidente a necessidade de lhe por termo, sob pena de se inviabilizarem  as hipóteses de saída da crise, para além de se criarem condições favoráveis a desenvolvimentos políticos perigosos para a democracia. 

Assumir os erros e corrigir o caminho que tem sido imposto seria uma atitude corajosa… mas parece que tal não está no horizonte dos responsáveis pela definição e condução da politica económica, tanto a nível nacional como da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, dando cada vez mais a noção de que estamos num barco à deriva num oceano cheio de escolhos.

Convém lembrar que a supremacia económica da Alemanha permitiu-lhe desenhar as instituições da U.E. á sua própria imagem e, através delas, impor as políticas económicas que entendeu mais convenientes aos seus interesses.

Apesar disto, a dar crédito a declarações (de quem, exactamente?) em destaque no jornal Público de ontem, parece que já não é tão forte a convicção alemã de que a austeridade que impôs a outros lhe esteja a ser, de facto, vantajosa: a zona euro entrou em recessão e a própria Alemanha regista uma quebra no PIB de 0,3% em variação homóloga no primeiro trimestre deste ano.

Ao mesmo tempo, a nível nacional, ouvimos a cada passo os ecos da discordância entre quem nos governa, anunciam-se medidas que semeiam o medo mas que, afinal, não são para valer, multiplicam-se acusações mútuas entre quem deveria transmitir confiança.

Nada mais faltava para o descrédito das instituições do que esta imagem de passa - culpas!

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