Quando, hoje, tomei conhecimento de que um relatório recente da Bloomberg dava conta de que o investimento em obrigações do tesouro português proporcionou, em 2012, um retorno de 57%, e que este foi, de longe, o mais elevado da Europa ( 29,3% - Irlanda; 20,75% - Itália), ocorreu-me a afirmação de Skidelsky de que a desigualdade está a matar o capitalismo.
Não é eticamente aceitável a apropriação de lucros desta dimensão – não é demais relembrá-lo! – mas temos de convir que também não é sustentável um sistema económico-financeiro que drene tão elevados recursos da economia real (produtiva) para o capital financeiro, com base na mera especulação financeira, isto é, sem que contribua para a produção de bens e serviços.
Ao invés, o que a especulação financeira está a provocar é a asfixia de recursos de capital público e privado disponíveis para novos investimentos e, consequentemente, para mais e melhor emprego, eliminação da pobreza, melhoria do bem-estar colectivo e da coesão social, objectivos estes que são nucleares na sustentação da democracia. Sabemos bem como a grande desigualdade, no interior dos países como entre diferentes estados, constitui poderoso e perigoso rastilho de conflitualidade social e bélica.
Os cidadãos portugueses têm razões para se interrogarem acerca das políticas públicas nacionais e comunitárias que não só transigem como alimentam este caminho de destruição.
O Papa Bento XVI nas suas mensagens de Natal e Ano Novo tem chamado a atenção dos governantes para a necessidade de uma regulação eficaz do sistema financeiro, valorização do trabalho humano, repartição equitativa da riqueza, prossecução do bem comum em vez de interesses individuais dos mais poderosos. Quem ouvirá a sua voz?
Ontem, no discurso de cumprimentos feito ao Corpo diplomático acreditado no Vaticano deixou este recado:
A União Europeia precisa de representantes clarividentes e qualificados para realizar as opções difíceis que são necessárias a fim de sanar a sua economia e colocar bases sólidas para o seu progresso. Sozinhos, alguns países talvez caminhassem mais rápido, mas, juntos, todos chegarão certamente mais longe.
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