Torna-se recorrente ouvir alguns líderes políticos, como ainda sucedeu recentemente com um discurso do Primeiro Ministro, virem fazer solenes declarações junto da opinião pública de que a recessão da economia portuguesa terminará no primeiro semestre do próximo ano e a partir daí se entrará, alegremente, no lado ascendente da curva do crescimento económico.
Palavras que pretendem ser consoladoras, mas que não tranquilizam quem tem sobejas razões para viver com desolação e desânimo o tempo presente, porque se defronta com perda acentuada de rendimento real e concomitante quebra de nível de vida, desemprego prolongado e insuficientemente protegido, falências em curso e ameaças de novos despedimentos, estrangulamentos severos no acesso ao crédito, etc..
Palavras que são apenas profecias, proferidas sem qualquer fundamento, proferidas por quem teima em não reconhecer a inutilidade e a perigosidade económica e social do receituário em curso, medidas eufemísticamente ditas de austeridade e que, com um pouco mais de rigor, deveriam ser reconhecidas como medias de desvalorização social do trabalho e empobrecimento colectivo.
Enquanto nada for feito em contrário do que vem sendo seguido em matéria de política económica, tanto no plano nacional como no domínio da arquitectura institucional comunitária e da respectiva política europeia, não será possível inverter a situação e tudo o que se diga em contrário é mera conjectura. Questão de aritmética que me dispenso de aqui exemplificar, por bem documentada em outros registos, dos meros dados estatísticos das fontes oficiais até aos comentários de autores de referência, incluindo alguns prémios Nobel da economia, como tem sucedido em artigos recentes de Joseph Stiglitz.
Não venham, pois, os ilusionistas do circo fazer crer que não há alternativas.
As alternativas existem, mas fora do espartilho deste modelo neo-liberal de capitalismo, que manifestamente entrou em irreversível ruptura e carece de urgente inovação democrática.
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