Publicou o jornal Público de
hoje um interessante depoimento do Presidente do Conselho para a Qualidade da
Saúde, Dr. Luís Campos.
De facto, as questões que aborda,
por se referirem à qualidade dos serviços hospitalares, não podem deixar de ser
debatidas pelos profissionais do sector e suas organizações, já que são
evidentes as falhas que afectam a vida de todos nós.
São numerosos os exemplos
apresentados de medidas que deveriam ser postas em prática, para que se
alcançasse melhor qualidade de serviços, desde mudanças ao nível da
organização, no combate ao desperdício, no aumento da produtividade, na
elaboração e aplicação de normas de orientação clinica, no prevenir de erros
nos actos praticados nos hospitais, na melhor integração de diferentes níveis de
cuidados e, finalmente, na avaliação das mudanças que vão sendo feitas no
sector da saúde.
De entre as situações
passiveis de melhoria, em relação às quais existe uma grande preocupação na
sociedade, ressalta a das listas de espera para cirurgia, que seriam eliminadas
se cada cirurgião do SNS fizesse apenas mais duas e meia cirurgias por mês,
para além da actual média de 8! (e enquanto tal não sucede, sabemos que aumenta
o recurso a cirurgias no sector privado, por vezes com encargos para o estado).
Outro problema é o dos erros
e acidentes que ocorrem em meio hospitalar, com consequências humanas por vezes
graves, para além de gerarem maiores custos no sistema de saúde. E afinal,
segundo o autor, ”a simples utilização de uma check list antes de cada cirurgia,
permitiria reduzir a taxa de complicações de 27% para 16% e a mortalidade
operatória para quase metade”. Também o ganho potencial na redução de infecções
adquiridas nos hospitais permitiria poupar muitas vidas e 282 milhões de euros
por ano.
São números assombrosos! E, quando
a reforma da rede hospitalar ganha justificado protagonismo na opinião pública,
é importante que estas questões da qualidade não sejam minimizadas: a boa
organização hospitalar e uma gestão responsável, com um horizonte de avaliação
no médio prazo, e enquadrada por normas adequadas, são objectivos que podem
realisticamente ser conseguidos, desde que se mobilizem todos os actores
relevantes, como é próprio de uma sociedade democrática.
E não se diga que existe aí um obstáculo
financeiro, pois, citando o autor, “tratar bem é sempre mais barato do que
tratar mal”. Então será possível conter, a prazo, a despesa na saúde, sem
prejudicar padrões de qualidade.
O que não desejamos é que
continue a prevalecer a preocupação de cortar o orçamento no SNS, como se daí
viesse a resultar a sua viabilidade financeira, ignorando os custos humanos e
económicos de tal política.
Ainda bem que este tipo de alerta vem de um alto responsável pela qualidade da saúde. Talvez a sua voz se faça ouvir junto dos profissionais do sector e mobilize a classe a rever o seu comportamento à luz de critérios de eficiência e de ética de bem servir. Mas também acredito que a divulgação deste tipo de conhecimento através da comunicação social há de mobilizar os cidadãos e os seus representantes eleitos para a necessidade de uma profunda mudança de mentalidade que coloque as pessoas e o bem comum no centro dos seus objectivos individuais e colectivos.
ResponderEliminarTambém li o artigo em causa e, tal como a dra. Manuela Silva, também eu acredito na capacidade de mobilização dos cidadãos através de opiniões tão conhecedoras como a do Dr. Luis Campos, divulgadas na comunicação social.
EliminarA propósito não posso deixar de referir o programa "Prós e Contras" de ontem, pelas opiniões justas e contundentes que alguns intervenientes apresentaram quanto às injustiças sociais e à desigualdade profunda que esta política de miséria está a gerar. Acho que caiu fundo na consciência de muitos ouvintes!